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Dádiva da Adoração a Deus

Adorar a Deus é um gesto simples, mesmo que muitas vezes não seja tão fácil assim, pelo menos quando se refere à verdadeira adoração que é feita alegremente, espontaneamente e em plena sinceridade de coração. Pois, apesar de simples, historicamente a humanidade sempre encontrou grandes dificuldades em oferecer a Deus verdadeira e exclusiva adoração. Continue lendo...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

John Piper - Parte 1 - Plena Satisfação em Deus


A BUSCA PELA ALEGRIA: Uma História Pessoal

John Piper, parte 1 pela Editora Fiel no site Vimeo.



Acesse os demais vídeos desta série:

  1. A BUSCA PELA ALEGRIA: Uma História Pessoal
  2. A SUPREMACIA DE DEUS: Deus é Vaidoso?
  3. BUSCAR A PRÓPRIA ALEGRIA: Isso não é Hedonismo?



Por John Piper. © Desiring God.
Disponibilizado pela Editora Fiel

John Piper - Parte 2 - Plena Satisfação em Deus


A SUPREMACIA DE DEUS: Deus é Vaidoso?


John Piper, parte 2 pela Editora Fiel no site Vimeo.


Acesse os demais vídeos desta série:

  1. A BUSCA PELA ALEGRIA: Uma História Pessoal
  2. A SUPREMACIA DE DEUS: Deus é Vaidoso?
  3. BUSCAR A PRÓPRIA ALEGRIA: Isso não é Hedonismo?



Por John Piper. © Desiring God.
Disponibilizado pela Editora Fiel

John Piper - Parte 3 - Plena Satisfação em Deus


BUSCAR A PRÓPRIA ALEGRIA: Isso não é Hedonismo?


John Piper, parte 3 pela Editora Fiel no site Vimeo.


Acesse os demais vídeos desta série:

  1. A BUSCA PELA ALEGRIA: Uma História Pessoal
  2. A SUPREMACIA DE DEUS: Deus é Vaidoso?
  3. BUSCAR A PRÓPRIA ALEGRIA: Isso não é Hedonismo?



Por
John Piper. © Desiring God.
Disponibilizado pela Editora Fiel

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Qual o sentido da vida em um mundo sem Deus?

Christopher Hitchens, expoente do novo ateísmo, discutiu a existência de Deus com o filósofo cristão William Lane Craig em 2009. Neste vídeo, eles discutem o sentido da vida. O Dr. Craig argumenta que se Deus não existe, a vida é um absurdo. Para saber mais sobre o argumento, leia o texto “O absurdo da vida sem Deus”.


Christopher Hitchens é um jornalista britânico e analista político de prestígio, considerado um autêntico representante do movimento chamado "neoateísmo", autor de diversos livros, além de artigos para revistas como a Época.

William L. Craig é doutor em Teologia pela Universidade de Munique e em Filosofia pela Universidade de Birmingham. Hábil debatedor, ele já enfrentou grandes pensadores céticos como Antony Flew, Bart Ehrman e John D. Crossan nos campi de Universidades como Harvard, Oxford e Princeton debatendo tópicos como a existência de Deus e a historicidade da ressurreição de Cristo. É autor de livros como A Veracidade da Fé Cristã e Filosofia e Cosmovisão Cristã, ambos publicados no Brasil pela Editora Vida Nova.

Fonte: Apologia

domingo, 15 de agosto de 2010

O ABSURDO DA VIDA SEM DEUS

William Lane Craig

O ser humano, escreve Loren Eisley, é o órfão cósmico. Ele é a única criatura no universo que pergunta: “Por quê?” Os outros animais têm instintos para guiá-los, mas o ser humano aprendeu a fazer perguntas.

“Quem sou eu”, pergunta o ser humano. “Por que estou aqui? Para onde estou indo?” Desde o iluminismo, quando se desvencilhou das amarras da religião, o ser humano tentou responder a essas perguntas sem fazer referência a Deus. Só que as respostas que vieram não foram alegres, mas escuras e terríveis. “Você é o subproduto acidental da natureza, um resultado de matéria mais tempo mais mudança. Não há razão para a sua existência. A morte é tudo o que você tem pela frente.”

O homem moderno pensou que, depois que se livrou de Deus, tinha ficado livre de tudo o que o reprimia e sufocava. Em vez disso, descobriu que, ao matar Deus, matara também a si próprio. Isso porque, se não há Deus, a vida humana é um absurdo.

Se Deus não existe, tanto o ser humano quanto o universo estão inevitavelmente condenados à morte. O ser humano, como todos os organismos biológicos tem de morrer. Sem esperança de imortalidade, sua vida apenas caminha para o túmulo. Sua vida não passa de uma faísca na escuridão infinita, uma fagulha que aparece, reluz e morre para sempre. Comparada com a extensão infinita do tempo, a duração da vida do ser humano é apenas um momento infinitesimal; mesmo assim, isso é tudo da vida que ele jamais conhecerá. Por isso, cada um tem de defrontar-se com o que o teólogo Paul Tilich chamou de “a ameaça de não ser”. Pois apesar de eu saber que existo, que estou vivo, também sei que algum dia não existirei mais, que não serei mais, que morrerei. Esse pensamento é assustador e ameaçador: pensar que a pessoa que chamo de “eu” deixará de existir, que eu não serei mais!

Recordo perfeitamente a primeira vez que meu pai me disse que um dia eu haveria de morrer. De algum modo, quando criança esse pensamento nunca me havia ocorrido. Quando ele o disse, fiquei cheio de temor e de tristeza insuportável. E apesar de ele tentar várias vezes garantir-me que isso ainda estava muito distante, isso não me parecia importar. Mais cedo ou mais tarde, o fato inegável era que eu morreria e não existiria mais, e esse pensamento tomou conta de mim. Depois de algum tempo, como todos nós, cresci e simplesmente aceitei o fato. Aprendemos a conviver com o que é inevitável. Mas as impressões da crianças continuam verdadeiras. Como observou o existencialista francês Jean-Paul Sartre, algumas horas ou alguns anos não fazem diferença, uma vez que você perdeu a eternidade.

Venha cedo ou tarde, a perspectiva de morte e a ameaça de não ser é um horror terrível. Contudo, certa vez encontrei um estudante que não sentia essa ameaça. Ele disse que fora criado numa fazenda e estava acostumado a ver os animais nascer e morrer. A morte para ele era simplesmente natural – parte da vida, por assim dizer. Fiquei perplexo com nossas diferentes perspectivas da morte e tive dificuldades para compreender por que ele não sentia a ameaça de não ser. Anos mais tarde, creio que encontrei a resposta lendo Sartre. Ele observou que a morte não é ameaçadora enquanto a vemos como a morte do outro, de certo modo da perspectiva da terceira pessoa. É somente quando a interiorizamos e olhamos do ponto de vista de primeira pessoa – “minha morte; eu vou morrer” – que a ameaça de não ser se torna real. Sartre mostra que muitas pessoas nunca assumem essa perspectiva de primeira pessoa em meio à vida; pode-se até olhar para a própria morte da perspectiva da terceira pessoa, como se fosse a morte de outro ou até de um animal, como fez o meu amigo estudante. O significado existencial verdadeiro da minha morte, contudo, só pode ser entendido do ponto de vista de primeira pessoa, quando compreendo que vou morrer e deixar de existir para sempre. Minha vida é apenas uma transição momentânea entre um esquecimento e outro.

O universo também encara a morte. Os cientistas nos dizem que o universo está em expansão, e que tudo que há nele está ficando cada vez mais distante. Com isso ele fica cada vez mais frio, e sua energia vai se gastando. Um dia todas as estrelas perderão seu calor e toda matéria se tornará em estrelas mortas e buracos negros. Não haverá mais luz, não haverá mais calor, não haverá mais vida, apenas estrelas e galáxias mortas, sempre se expandindo em trevas sem fim e extremidades frias do espaço – um universo em ruínas. Todo o universo se encaminha de modo irreversível para o túmulo. Assim, não só a vida de cada pessoa está condenada; toda a raça humana está condenada. O universo está se precipitando em direção à extinção inevitável – a morte está encravada em toda a sua estrutura. Não há escapatória. Não há esperança.

O ABSURDO DA VIDA SEM DEUS E SEM IMORTALIDADE

Se não há Deus, o ser humano e o universo estão condenados. Como prisioneiros condenados à morte, esperamos nossa execução inevitável. Não há Deus, e não há imortalidade. E qual a conseqüência disso? Significa que a própria vida é um absurdo. Significa que a vida que temos não tem sentido fundamental, valor ou propósito. Vejamos esses três conceitos mais de perto.

Não há sentido fundamental sem imortalidade e sem Deus

Se cada pessoa deixa de existir quando morre, que sentido fundamental pode ser dado à sua vida? Realmente faz diferença se ela existiu? Pode ser dito que sua vida foi importante porque influenciou outros ou afetou o curso da história. Mas isso mostra apenas um significado relativo da sua vida, não um sentido fundamental. Sua vida pode ter importância relativa a certos acontecimentos, mas qual é o sentido fundamental desses acontecimentos? Se todos os acontecimentos não têm sentido, então que sentido fundamental pode haver em influenciá-los? No final das contas, não faz diferença.

Olhe para isso de outro ponto de vista: os cientistas dizem que o universo se originou de uma explosão que chamam de “Big Bang”, há mais ou menos 15 bilhões de anos. Imagine que o “Big Bang” nunca tenha ocorrido. Imagine que o universo nunca tenha existido. Que diferença fundamental isso faria? O universo está mesmo fadado a morrer. No fim, não faz diferença se ele realmente existiu ou não. Por isso ele não tem sentido fundamental.

O mesmo vale para a raça humana. A humanidade está condenada em um universo moribundo. Uma vez que um dia deixará de existir, não faz diferença fundamental se ela alguma vez existiu. A humanidade, assim, não tem mais importância do que um enxame de mosquitos ou uma vara de porcos, pois seu fim é idêntico. O mesmo processo cósmico cego que a vomitou no início um dia acabará por engoli-la.

O mesmo se aplica a cada pessoa. As contribuições dos cientistas para o avanço do conhecimento humano, as pesquisas dos médicos para aliviar dor e sofrimento, os esforços dos diplomatas para promover a paz no mundo, os sacrifícios de pessoas boas para melhorar a sorte da raça humana – tudo isso não dá em nada. No fim, não farão nenhuma diferença, nem um pouquinho. A vida de cada pessoa, portanto, não tem sentido fundamental. E se, no final das contas, nossa vida não tem sentido, as atividades com que a preenchemos também não têm sentido. As longas horas gastas em estudo na universidade, os empregos, os interesses, as amizades – tudo isso é, em última análise, totalmente sem sentido. É isto que apavora o homem moderno: já que ele acaba em nada, ele é nada.

Contudo, é importante perceber que o ser humano não precisa apenas de imortalidade para que sua vida faça sentido. A mera continuação da existência não dá sentido a essa existência. Se o ser humano e o universo pudessem existir para sempre, mas não houvesse Deus, sua existência ainda não teria sentido fundamental. Certa vez li uma história de ficção científica em que um astronauta foi abandonado em uma rocha deserta perdida no espaço sideral. Ele levava consigo dois frascos, um contendo veneno e outro, uma poção que o faria viver para sempre. Compreendendo seu predicamento, ele engoliu o veneno. Mas então, para seu horror, descobriu que abrira o frasco errado – bebera a poção da imortalidade. E isso significava que ele estava condenado a existir para sempre – numa vida sem sentido e sem fim. Muito bem; se Deus não existe, nossa vida é como a desse astronauta. Ela pode durar para sempre, e mesmo assim não ter sentido. Ainda poderíamos perguntar à vida: “E daí?” Portanto, o ser humano não precisa apenas de imortalidade para que sua vida tenha sentido fundamental; ele necessita de Deus e de imortalidade. E se Deus não existe, ele não tem nenhum dos dois.

O homem do século vinte veio a compreender isso. Leia Á espera de Godot, de Samuel Beckett. Durante toda essa peça, dois homens estão ocupados numa conversa trivial, enquanto esperam um terceiro que nunca aparece. Nossa vida é assim, Beckett está dizendo: simplesmente matamos o tempo esperando – o quê, não sabemos. Num trágico retrato do ser humano, Beckett escreveu outra peça em que a cortina se abre para mostrar o palco cheio de lixo. Por trinta longo segundos, a platéia olha atônita, em silêncio, para aquele lixo. Então a cortina se fecha. Isso é tudo.

Um dos romances mais devastadores que já li foi O lobo da estepe, de Hermann Hesse. No fim do romance, Harry Haller fica olhando para si mesmo em um espelho. No curso da sua vida ele experimentara tudo o que o mundo oferece. E agora está olhando para si mesmo, e resmunga: “Ah, o sabor amargo da vida!” Ele cospe em si mesmo no espelho e, depois o estilhaça com chutes. Sua vida foi fútil e sem sentido.

Os existencialistas franceses Jean-Paul Sartre e Albert Camus também compreenderam isso. Sartre retratou a vida em sua peça Sem saída como o inferno – a última linha da peça são as palavras resignadas: “Bem, continuemos com isso”. Por isso Sartre escreve em outro texto sobre a “náusea” da existência. Camus também considerava a vida absurda. No fim do seu curto romance O estranho, o herói de Camus descobre num lampejo de compreensão que o universo não tem sentido e que não existe um Deus que lhe dê sentido. O bioquímico francês Jacques Monod pareceu refletir os mesmos sentimentos quando escreveu em sua obra Acaso e necessidade: “O ser humano finalmente sabe que está sozinho na imensidão indiferente do universo”.

Portanto, se Deus não existe, a própria vida se torna sem sentido. O ser humano e o universo não têm sentido fundamental.

Não há valor fundamental sem imortalidade e sem Deus

Se a vida termina no túmulo, não faz diferença se nossa vida foi como a de Stalin ou a de um santo. Se nosso destino, no fim das contas, não tem relação com nossa conduta, cada um pode viver como quiser. Como Dostoyevsky disse: “Se não há imortalidade, todas as coisas são permitidas”. Com base nisso, um escritor como Ayn Rand está totalmente correto em louvar as virtudes do egoísmo. Viva totalmente para si; você não deve satisfações a ninguém! Na verdade, seria tolice viver de qualquer outra forma, porque a vida é curta demais para desperdiçá-la agindo de outra forma a não ser em interesse próprio. Sacrificar-se por outra pessoa seria burrice. Kai Nielsen, filósofo ateu que tenta defender a viabilidade da ética sem Deus, no fim admite:

Não fomos capazes de mostrar que a razão requer o ponto de vista moral, ou que todas as pessoas realmente racionais, não predispostas por mitos ou ideologias, precisam ser indivíduos egoístas ou amoralistas clássico. Não é a razão que decide aqui. O quadro que pintei para você não é bonito. A reflexão sobre ele me deprime [...] A pura razão prática, mesmo com um bom conhecimento dos fatos, não o levará à moralidade. [1]

O problema, porém, torna-se ainda pior. Porque, apesar da imortalidade, se não há Deus, não pode haver padrões objetivos do que é certo e errado. Tudo o que está diante de nós, nas palavras de Jean-Paul Sartre, é o fato nu e sem valor da existência. Os valores morais são simples expressões de gosto pessoal ou subprodutos da evolução e do condicionamento sócio-biológico.

Nas palavras de um filósofo humanista: “Os princípios morais que regem nossa conduta estão arraigados em hábitos e costumes, sentimentos e modas” [2] Num mundo sem Deus, quem dirá quais valores são corretos e quais são errados? Quem julgará que os valores de Adolf Hitler são inferiores aos de um santo? O conceito de moralidade perde todo o sentido num universo sem Deus. Um ético ateu contemporâneo disse: “Afirmar que algo é errado porque [...] é proibido por Deus é [...] perfeitamente compreensível para alguém que crê em um deus legislador. Mas dizer que algo é errado [...] apesar de não existir um deus que o proíba não é compreensível [...] O conceito de obrigação moral [é] incompreensível sem a idéia de Deus. As palavras permanecem mas seu sentido se foi.” [3] Em um mundo sem Deus, não pode haver certo e errado objetivos, somente nossos juízos subjetivos, cultural e pessoalmente relativos. Isso significa que é impossível condenar guerra, opressão ou crime como maus. Também não podemos louvar fraternidade, igualdade e amor como bons. Porque em um universo sem Deus, bem e mal não existem – existe apenas o fato nu e sem valor da existência, e não há ninguém para dizer que você está certo e eu errado.

Não há propósito fundamental sem imortalidade e sem Deus

Se a morte nos espera de braços abertos no fim do curso da nossa vida, qual é o objetivo da vida? Com que fim ela foi vivida? Tudo foi a troco de nada? Não há razão para a vida? E o que dizer do universo? Ele é completamente sem razão? Se seu destino é um túmulo frio nas extremidades do espaço sideral, a resposta tem de ser sim – ele não tem razão de ser. Não há alvo, não há propósito para o universo. O lixo de um universo morto simplesmente continuará a se expandir – para sempre.

E o ser humano? Será que existe algum propósito para a raça humana? Ou será que ela simplesmente desaparecerá algum dia perdida no esquecimento de um universo indiferente? O escritor inglês H. G. Wells anteviu essa perspectiva. Em seu romance A máquina do tempo, o viajante no tempo avança para o futuro, a fim de descobrir o destino do ser humano. Tudo o que ele encontra é terra morta, com a exceção de alguns liquens e musgos, orbitando em torno de um gigantesco sol vermelho. Os únicos sons são o sopro do vento e o marulhar das ondas do oceano. “Com exceção desses sons sem vida”, escreve Wells, “o mundo estava em silêncio. Silêncio? Seria difícil descrever como tudo estava quieto. Todos os sons das pessoas, o balido das ovelhas, o canto dos pássaros, o zumbir dos insetos, o movimento que forma o pano de fundo da nossa vida – tudo havia passado”[4] E assim o viajante no tempo de Wells voltou para casa. Mas para quê? – para um mero ponto anterior na corrida em direção ao esquecimento. Quando eu, ainda nâo cristão, li o livro de Wells, pensei: “Não! Não! Não pode terminar assim!” Mas se não há Deus, o fim será esse, gostemos ou não. Esta é a realidade em um universo sem Deus: não há esperança, não há propósito. Isso me recorda os versos assustadores de T S. Eliot:

E assim que o mundo termina

E assim que o mundo termina

E assim que o mundo termina

Não com uma explosão; com um gemido.”[5]

O que se aplica à raça humana como um todo vale para cada um de nós individualmente: estamos aqui sem propósito. Se não há Deus, nossa vida não é qualitativamente diferente da de um cão. Sei que isso é duro, mas é verdade. O antigo escritor de Eclesiastes o disse assim: “O que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó e ao pó tornarão” (Ec 3.19-20). Nesse livro, que se parece mais com uma peça da moderna literatura existencialista do que com um livro da Bíblia, o escritor mostra a futilidade de prazer, riqueza, educação, fama política e honra em uma vida fadada a terminar na morte. Qual é seu veredicto? “Vaidade de vaidades! Tudo é vaidade” (Ec 1.2). Se a vida termina no túmulo, não temos um propósito fundamental para viver.

Mais que isso: mesmo se tudo não terminasse na morte, sem Deus a vida ainda seria sem propósito. O ser humano e o universo seriam simples acidentes do acaso, jogados na existência sem motivo. Sem Deus o universo é resultado de um acidente cósmico, uma explosão aleatória. Não há motivo pelo qual ele exista. Quanto ao ser humano, ele é um capricho da natureza – um produto às cegas de matéria mais tempo mais acaso. O ser humano não passa de uma massa gosmenta que evoluiu até a racionalidade. Não há mais propósito na vida para a raça humana do que para uma espécie de inseto; ambos são resultado da interação cega de acaso e necessidade. Um filósofo o disse assim: “A vida humana está posta sobre um pedestal subumano e tem de lutar sozìnha no centro de um universo silencioso e sem razão”[6]

O que vale para universo e a raça humana também se aplica a nós como indivíduos. Enquanto seres humanos individuais, somos o resultado de certas combinações de hereditariedade e ambiente. Somos vítimas de um tipo de roleta genética e ambiental. Os psicólogos que seguem Sigmund Freud nos dizem que nossas ações são resultados de várias tendências sexuais reprimidas. Os sociólogos que seguem B. E Skinner argumentam que todas as nossas escolhas são determinadas pelo condicionamento, de modo que a liberdade é uma ilusão. Biólogos como Francis Crick consideram o ser humano uma máquina eletroquímica que pode ser controlada alterando-se seu código genético. Se Deus não existe, você não passa de um aborto da natureza, jogado num universo sem propósito para levar uma vida sem propósito.

Portanto, se Deus não existe, isso significa que o ser humano e o universo existem sem nenhum propósito -já que o fim de tudo é a morte – e que vieram a existir sem nenhum propósito, já que são produtos cegos do acaso. Em resumo, a vida é totalmente sem razão.

Você consegue entender a gravidade das alternativas à nossa frente? Se Deus existe, há esperança para

o ser humano. Mas se Deus não existe, tudo o que nos resta é o desespero. Você compreende por que a pergunta da existência de Deus é tão vital para o ser humano? Como um escritor expressou muito bem: “Se Deus está morto, o ser humano também está”.

Infelizmente, a massa da humanidade não percebe esse fato. Ela continua a viver como se nada tivesse mudado. Recordo-me da história de Nietzsche sobre o louco que, nas primeiras horas da manhã, corre pelo mercado com um lampião na mão, exclamando: “Procuro Deus! Procuro Deus!” Como muitos à sua volta não crêem em Deus, ele provoca muitos risos. “Deus se perdeu?”, zombam dele. “Ou se escondeu? Ou foi viajar ou emigrou!” E riem alto. Então, escreve Nietzsche, o louco pára no meio deles e crava-lhes o olhar:

“Onde está Deus?”, ele grita. “Eu lhes direi. Nós o matamos - vocês e eu. Todos nós somos seus assassinos. E como fizemos isso? Como pudemos beber o mar? Quem nos deu a esponja para apagar todo o horizonte? O que fizemos quando desamarramos esta terra do seu sol? Para onde ela está se movendo agora? Para longe de todos os sóis? Não estamos caindo sem parar? Para trás, para os lados, para a frente, em todas as direções? Restou alguma coisa em cima ou embaixo? Não estamos vagando como que por um nada infinito? Não estamos sentindo a respiração do espaço vazio? Não ficou mais frio? Não está chegando cada vez mais a noite? Não estamos tendo de acender lampiões de manhã? Não ouvimos apenas o barulho dos coveiros que estão sepultando a Deus? ([...]Deus está morto [...]. E nós o matamos. Como nós, os maiores de todos os assassinos, iremos consolar a nós mesmos?”[7]

A multidão ficou fitando o louco em silêncio e perplexidade. Por fim, ele coloca o lampião no chão e disse: “Cheguei muito cedo, esse acontecimento incrível ainda está a caminho – ainda não atingiu os ouvidos do ser humano”. O ser humano ainda não compreendera realmente as conseqüências do que fizera ao matar a Deus. Mas Nietzsche predisse que um dia as pessoas entenderiam as implicações do seu ateísmo; e essa percepção daria início a uma era de niilismo – a destruição de todo significado e valor da vida. O fim do cristianismo, escreveu Nietzsche, significa o advento do niilismo. Esse mais terrível de todos os hóspedes já está à porta. “Toda a nossa cultura européia está há algum tempo em movimento”, escreveu Nietzsche, “numa tensão torturante que está crescendo a cada década, como na iminência de uma catástrofe: sem descanso, com violência, precipitado, como um rio que quer chegar ao fim, que não reflete mais, que tem medo de refletir”[8].

A maioria das pessoas ainda não reflete sobre as conseqüências do ateísmo, e assim, como a multidão no mercado, continua seu caminho sem saber. Mas quando entendemos, como Nietzsche, o que o ateísmo implica, essa pergunta fará grande pressão sobre nós: como nós, os maiores assassinos, consolaremos a nós mesmos?

A IMPOSSIBILIDADE PRÁTICA DO ATEÍSMO

Quase a única solução que um ateu pode oferecer é que enfrentemos o absurdo da vida e vivamos com coragem. Bertrand Russell, por exemplo, escreveu que temos de construir nossa vida sobre “o firme fundamento do desespero incessante”[9]. Somente reconhecendo que o mundo é realmente um lugar terrível é que podemos lidar bem com essa vida. Camus disse que devemos reconhecer honestamente o absurdo da vida e depois viver com amor uns pelos outros.

O problema fundamental com essa solução, porém, é que é impossível viver de modo coerente e feliz com uma cosmovisão assim. Quem vive de modo coerente, não será feliz; quem vive de modo feliz, apenas o é porque não é coerente. Francis Schaeffer explicou bem esse ponto. Ele. diz que o homem moderno mora em um universo de dois andares. No andar de baixo está o mundo finito sem Deus; ali a vida é um absurdo, como vimos. No andar de cima estão sentido, valor e propósito. Muito bem, o homem moderno mora no andar de baixo porque acredita que Deus não existe. Só que não pode viver feliz num mundo absurdo; por isso, constantemente dá saltos de fé para o andar superior para afirmar sentido, valor e propósito, apesar de não ter direito a isso por não crer em Deus. O homem moderno é totalmente incoerente quando dá o seu salto, porque esses valores não existem sem Deus, e o ser humano no andar de baixo não tem Deus.

Olhemos mais uma vez, então, cada uma dessas três áreas em que vimos que a vida sem Deus é um absurdo, para mostrar como o ser humano não pode viver de modo coerente e feliz com seu ateísmo.

O sentido da vida

Primeiro, a área do sentido. Vimos que, sem Deus, a vida não _tem sentido. Todavia, os filósofos continuam vivendo como se a vida tivesse sentido. Por exemplo, Sartre argumentou, que é possível criar sentido para a vida escolhendo livremente certo curso de ação. O próprio Sartre escolheu o marxismo.

Bem, isso é de uma incoerência completa. Não há coerência em dizer que a vida é objetivamente um absurdo e depois afirmar que se pode criar sentido para a vida. Se a vida é realmente um absurdo, o ser humano está preso no andar de baixo. Tentar criar sentido na vida significa saltar para o andar superior. Mas Sartre não tem base para dar esse salto. Sem Deus, não pode haver sentido objetivo na vida. O programa de Sartre é na verdade um exercício de auto-engano. O universo na verdade não adquire sentido só porque eu lhe atribuo algum sentido. Isso é fácil de ver: imagine que eu dou um sentido ao universo e você lhe dá outro. Quem tem razão? A resposta, claro, é nenhum dos dois. O universo sem Deus permanece sem sentido em termos obietivos, não importa como nós o consideremos. Sartre na verdade está dizendo: “Vamos fazer de conta que o universo tem sentido”. E isso equivale a enganar a si mesmo.

A questão é esta: se Deus não existe, a vida, em termos objetivos, não tem sentido; acontece que o ser humano não pode viver de modo coerente e feliz sabendo que a vida não tem sentido; assim, com o propósito de ser feliz, ele finge que a vida tem sentido. Isso, claro, é uma incoerência a toda prova pois, sem Deus, o ser humano e o universo não têm nenhum sentido real.

O valor da vida

Agora volte-se para o problema do valor. É aqui que ocorrem as incoerências mais flagrantes. Em primeiro lugar, os humanistas ateus são totalmente incoerentes ao afirmar os valores tradicionais de amor e fraternidade. Camus foi criticado com razão por defender de modo incoerente o absurdo da vida ao lado da ética do amor e da fraternidade humana. Esses dois elementos são logicamente incompatíveis. Bertrand Russell também foi incoerente. Apesar de ateu, era um destacado crítico social e denunciava a guerra e as restrições à liberdade sexual. Russell admitiu que não podia viver como se os valores éticos fossem uma simples questão de gosto pessoal, e que por isso não considerava suas próprias posições passíveis de se crer. “Não sei a solução”, confessou[10]. A questão é que, se não há Deus, não podem existir certo e errado objetivos. Como disse Dostoyevsky: “Todas as coisas são permitidas”.

Dostoyevsky, porém, também mostrou que o ser humano não pode viver dessa maneira. Ele não pode viver como se não houvesse problema algum no fato de soldados massacrarem crianças inocentes. Ele não pode viver como se não houvesse problema algum nos regimes ditatoriais que adotam um programa sistemático de tortura física de prisioneiros políticos. Ele não pode viver como se estivesse tudo bem com ditadores como Pol Pot, que exterminam milhões dos seus próprios compatriotas. Todo o seu ser grita para dizer que esses atos são errados – realmente errados. Mas se não há Deus, ele não pode fazer isso. Então, ele dá um salto de fé e afirma esses valores mesmo assim. E ao fazê-lo, revela a inadequação de um mundo sem Deus.

O horror de um mundo sem valores ficou claro para mim, e com muito mais intensidade, há alguns anos quando assisti a um documentário da BBC na televisão chamado “A reunião”. Era sobre sobreviventes do Holocausto que se encontraram em Jerusalém, onde redescobriram amizades perdidas e compartilharam suas experiências. Bem, eu já havia ouvido histórias do Holocausto e até visitara Dachau e Buchenwald, e pensava que não me chocaria com mais histórias de horror. Mas descobri que estava enganado. Talvez eu estivesse mais sensível por causa do nascimento recente da nossa linda filha, transferindo-lhe as situações relatadas na televisão. Seja como for, uma prisioneira, enfermeira, contou como fora transformada em ginecologista em Auschwitz. Ela observou que as mulheres grávidas eram agrupadas por soldados sob a direção do Dr. Mengele e abrigadas nos mesmos barracões. Passado algum tempo, ela notou que não via mais nenhuma daquelas mulheres. Começou então a fazer perguntas: “Onde estão as mulheres grávidas que foram colocadas naqueles barracões?” “Você não sabe?”, foi a resposta. “O Dr. Mengele as usou para vivisseção”.

Outra mulher contou como Mengele enfaixara seus seios para que não pudesse amamentar seu bebê. O médico queria saber quanto tempo um bebê podia sobreviver sem alimento. Desesperada, essa pobre mulher tentou manter seu bebê vivo dando-lhe pedaços de pão molhados no café, mas sem resultado. A cada dia ele perdia peso, fato acompanhado com precisão pelo Dr. Mengele. Então uma enfermeira veio em segredo dizer a essa mulher: “Dei um jeito de você sair daqui, mas você não pode levar seu bebê. Eu trouxe uma injeção de morfina para você pôr fim à vida dele”. Diante dos protestos da mulher, a enfermeira foi insistente: “Veja, seu bebê vai morrer de qualquer jeito. Pelo menos salve a si mesma”. E assim aquela mãe tirou a vida do seu próprio filho. O Dr. Mengele ficou furioso quando soube do fato porque perdera sua cobaia, e procurou entre os cadáveres até achar o corpo do bebê para poder pesá-lo pela última vez.

Fiquei arrasado com essas histórias. Um rabino que sobreviveu ao campo fez um bom resumo de tudo, quando disse que em Auschwitz era como se existisse um mundo em que os Dez Mandamentos haviam sido invertidos. A raça humana nunca havia testemunhado um inferno como aquele.

Mesmo assim, se Deus não existe, em certo sentido nosso mundo é um Auschwitz: não há certo nem errado absolutos; todas as coisas são permitidas. No entanto, nem o ateu nem o agnóstico podem viver de modo coerente com essa postura. O próprio Nietzsche, que proclamou a necessidade de viver “além do bem e do mal”, rompeu com seu mentor Richard Wagner exatamente por causa da questão do antisemitismo e do nacionalismo germânico estridente do compositor. De modo semelhante, Sartre, escrevendo logo depois da Segunda Guerra Mundial, condenou o anti-semitismo, declarando que uma doutrina que leva ao extermínio não é uma mera opinião ou questão de gosto pessoal, de igual valor do seu oposto[11]. Em seu importante estudo “O existencialismo é um humanismo”, Sartre luta em vão para disfarçar a contradição entre sua negação de valores divinamente pré-estabelecidos e seu desejo urgente de afirmar o valor dos seres humanos. A exemplo de Russell, ele não conseguia conviver com as implicações da sua própria negação dos absolutos éticos.

Um segundo problema é que, se Deus não existe e não há imortalidade, todos os atos maus das pessoas ficam sem punição e todos os sacrifícios das pessoas boas ficam sem recompensa. Quem pode viver com essa postura? Richard Wurmbrand, que foi torturado em prisões comunistas por sua fé, afirma:

A crueldade do ateísmo é difícil de aceitar para quem não crê na recompensa do bem ou na punição do mal. Não há razão para sermos humanos. Não há impedimento para a profundidade do mal no ser humano. Os torturadores comunistas diziam muitas vezes: “Deus não existe, não existe além, não existe punição para o mal. Podemos fazer o que quisermos”. Ouvi um torturador chegar a dizer: “Agradeço a Deus, em quem não creio, por poder viver até essa hora em que posso expressar todo o mal que há em meu coração”. Ele expressava isso com brutalidade e tortura inacreditáveis infligidas aos prisioneiros.[12]

O teólogo inglês Cardeal Newman disse certa vez que, se acreditasse que todos os males e injustiças da vida em toda a história não serão corrigidos por Deus na vida do além, “bem, acho que eu ficaria louco”. E com razão.

O mesmo se aplica a atos de auto-sacrifício. Há alguns anos ocorreu um terrível desastre aéreo durante o inverno, em que um avião que saiu de Washington, nos Estados Unidos, bateu em uma ponte sobre o rio Potomac e arremessou os passageiros na água gelada. Quando chegaram os helicópteros de resgate, a equipe de salvamento percebeu que havia um homem que ficava jogando a escada de cordas para outros passageiros, em vez de se deixar puxar para a segurança do helicóptero. Seis vezes ele jogou a escada para outros. Na sétima vez que a escada desceu, ele não estava mais lá. Dera a sua vida espontaneamente, para que outros pudessem viver. Toda a nação voltou os olhos para esse homem em respeito e admiração pelo ato de bondade e altruísmo. Mesmo assim, se o ateu tem razão no que afirma, aquele homem não fez nada de nobre – ele fez a coisa mais estúpida possível. Ele devia ter se lançado em direção à escada e até empurrado os outros, se necessário, a fim de sobreviver. Mas morrer por gente que ele nem conhecia, desistir da breve existência que ainda lhe restava – para quê? Para um ateu, não pode haver razão que justifique tal ato. Mesmo assim, o ateu, como qualquer um de nós, instintivamente reage com louvor a esse ato desinteressado do homem. De fato, provavelmente nunca encontraremos um ateu que viva em coerência com seu sistema. Pois um universo sem responsabilidade moral e sem valores é incalculavelmente terrível.

O propósito da vida


Por último, vejamos o problema do propósito na vida. As únicas duas maneiras pelas quais a maioria das pessoas que negam o propósito da vida podem viver feliz é inventando um propósito, o que equivale ao auto-engano como vimos em Sartre, ou não levando sua posição às conclusões lógicas. Observe o problema da morte como exemplo. De acordo com Ernst Bloch, a única maneira pela qual o homem moderno pode viver em face da morte é valendo-se inconscientemente da crença na imortalidade que seus antepassados tinham, mesmo sem ter ele mesmo base para essa crença, já que não crê em Deus. Bloch constata que a crença de que a vida termina em nada dificilmente é, em suas palavras, “suficiente para manter a cabeça erguida e trabalhar como se não houvesse fim”. Ao se valer dos resquícios de uma crença na imortalidade, escreve Bloch, “o homem moderno não sente o abismo que o cerca por todos os lados e com certeza acabará por tragá-lo. Com esses resquícios, ele salva seu senso de identidade própria. Por meio deles surge a impressão de que o ser humano não está perecendo, mas apenas um dia o mundo terá o capricho de não mais se mostrar a ele”. Bloch conclui: “Essa coragem bastante superficial saca de um cartâo de crédito emprestado. Ela vive de esperanças anteriores e da sustentação que elas antigamente proporcionavam”[13]. O homem moderno não tem mais o direito a tal sustentação, já que rejeita a Deus. Mas, a fim de viver com propósito, dá um salto de fé para afirmar uma razão para a vida.

Encontramos freqüentemente a mesma incoerência entre aqueles que dizem que o ser humano e o universo vieram a existir sem qualquer razão ou propósito, apenas por acaso. Incapazes de viver em um universo impessoal em que tudo é produto do acaso cego, essas pessoas começam a atribuir personalidade e motivos aos próprios processos físicos. Essa é uma maneira bizarra de falar e representa um salto do andar de baixo para o de cima. Por exemplo, os brilhantes físicos russos Zeldovich e Novikov, ao contemplar as propriedades do universo, perguntam por que a “natureza” decidiu criar esse tipo de universo e não outro. “Natureza” obviamente se tornou um tipo de substituto de Deus, preenchendo o papel e a função de Deus. Francis Crick, no meio do seu livro The origin of the genetic code, começa a escrever “natureza” com N maiúsculo, e em outras passagens diz que a seleção natural é “inteligente” e que “pensa” no que fará. Fred Hoyle, astrônomo inglês, atribui ao próprio universo as qualidades de Deus. Para Carl Sagan, o “cosmos”, que ele sempre escreve com C maiúsculo, obviamente tem o papel de um substituto de Deus. Apesar de todos esses homens professarem não crer em Deus, eles contrabandeiam um substituto de Deus pela porta dos fundos, porque não suportam viver em um universo em que tudo é resultado do acaso de forças impessoais.

E é interessante ver muitos pensadores traírem suas posições quando são empurrados em direção às suas conclusões lógicas. Por exemplo, certas feministas levantaram uma tempestade de protestos contra a psicologia freudiana porque é machista e degradante para as mulheres. Então alguns psicólogos abaixaram a cabeça e revisaram suas teorias. Acontece que isso é totalmente incoerente. Se a psicologia freudiana é realmente verdadeira, não importa se ela degrada as mulheres. Você não pode mudar a verdade porque não gosta de suas conclusões. Contudo, as pessoas não conseguem viver coerentes e felizes em um mundo onde outras pessoas são desvalorizadas. Se Deus, porém, não existe, ninguém tem valor. Somente se Deus existe alguém pode com coerência apoiar os direitos das mulheres. Pois se Deus não existe, a seleção natural dita que quem é dominante e agressivo na espécie é o macho. As mulheres não poderiam ter mais direitos do que uma cabra ou uma galinha. Na natureza, tudo o que existe está certo. Mas quem consegue conviver com essa postura? Ao que parece, nem mesmo os psicólogos freudianos, que traem suas teorias quando levados às suas conclusões lógicas.

Observe, também, o behaviorismo sociológico de alguém como B. F. Skinner. Essa posição leva ao tipo de sociedade imaginada em 1984, de George Orwell, em que o governo controla e programa os pensamentos de todo mundo. Se é possível fazer o cão de Pavlov salivar quando soa uma campainha, pode-se fazer o mesmo com um ser humano. Se as teorias de Skinner estão certas, não pode haver objeção para tratar as pessoas como os ratos na caixa de Skinner, que correm pelos labirintos atraídos por comida e impelidos por choques elétricos. De acordo com Skinner, todas as nossas noções são predeterminadas. E se Deus não existe, não se podem levantar objeções morais contra esse tipo de programação, pois o ser humano não é qualitativamente diferente de um rato, já que ambos são apenas matéria mais tempo mais acaso. Mas repito: quem consegue conviver com uma postura tão desumanizadora?

Ou, por fim, pense no determinismo biológico de alguém como Francis Crick. Sua conclusão lógica é que o ser humano é igual a qualquer outro espécime de laboratório. O mundo ficou horrorizado quando soube que em campos como Dachau os nazistas tinham usado prisioneiros para experimentos médicos em seres humanos. E por que não? Se Deus não existe, não pode haver objeções ao uso de pessoas como cobaias humanas. Um memorial em Dachau traz a inscrição Nie wieder - “nunca mais” – mas esse tipo de coisa continua acontecendo. Há alguns anos foi revelado que, nos Estados Unidos, várias pessoas haviam recebido de pesquisadores médicos drogas esterilizadoras, sem o conhecimento delas. Não temos nós de protestar que isso está errado – que o ser humano é mais que uma máquina eletroquímica? O fim dessa posição é o controle populacional em que os fracos e indesejados são eliminados para abrir espaço para os fortes. No entanto, a única base para podermos protestar com coerência é a existência de Deus. Somente se Deus existe pode haver propósito na vida.

Portanto, o dilema do homem moderno é realmente terrível. Enquanto se negarem a existência de Deus e a objetividade de valor e propósito, esse dilema continuará insolúvel também para o homem “pósmoderno”. Na verdade, é exatamente a consciência de que o modernismo conduz inevitavelmente ao absurdo e ao desespero que constitui a angústia da pós-modernidade. Em alguns sentidos, a pósmodernidade nada mais é que a percepção da falência da modernidade. A cosmovisão ateísta é insuficiente para proporcionar uma vida feliz e coerente. O ser humano não pode viver de modo coerente e feliz como se a vida no fim das contas não tivesse sentido, valor ou propósito. Se tentarmos viver de modo coerente dentro da cosmovisão ateísta, acabaremos profundamente infelizes. Se, porém, conseguirmos viver felizes, será apenas contradizendo nossa cosmovisão.

Confrontado com esse dilema, o ser humano procura pateticamente alguma escapatória. Num discurso marcante à Academia Americana para Desenvolvimento da Ciência, em 1991, o Dr. L. D. Rue, confrontado com o predicamento do homem moderno, defendeu corajosamente que enganemos a nós mesmos com alguma “Mentira Nobre” para que pensemos que nós e o universo ainda temos valor[14]. Ao afirmar que “a lição dos últimos dois séculos é que o intelectualismo e o relativismo moral são o problema”, o Dr. Rue especula que a conseqüência dessa constatação é que a busca da integralidade (ou realização) pessoal e a busca da coerência social se tornam independentes uma da outra. Isso é assim porque, em vista do relativismo, a busca da realização pessoal fica radicalmente individualizada: cada pessoa escolhe seu próprio conjunto de valores e significado. “Não existe uma explicação definitiva e objetiva do mundo ou da pessoa. Não existe um vocabulário universal para integrar cosmologia e moralidade.” Se quisermos evitar a “alternativa do hospício”, em que a realização pessoal é buscada à custa da coerência social, e a “alternativa totalitária”, em que a coerência social é imposta à custa da integralidade pessoal, não temos outra escolha senão adotar alguma Mentira Nobre que nos inspire a viver além dos interesses egoístas, para chegar à coerência social. Mentira Nobre “é aquela que nos engana, nos ilude, nos impele além do interesse próprio, além do ego, além de família, nação [e] raça”. E uma mentira porque nos diz que o universo é dotado de valor (o que é uma grande ficção), porque alega ser uma verdade universal (o que não existe) e porque me diz que não devo viver para os meus interesses (o que é obviamente falso). “Sem essas mentiras, no entanto, não conseguimos viver.”

Esse é o terrível veredicto pronunciado sobre o homem moderno. A fim de sobreviver, ele tem de viver enganando a si mesmo. Contudo, mesmo a alternativa da Mentira Nobre, no fim das contas, não funciona, porque, se o que eu disse até aqui está correto, a crença na Mentira Nobre seria necessária não apenas para atingir coerência social e integralidade pessoal para as massas, mas também para alcançar a própria integralidade pessoal. Isso porque ninguém pode viver de modo feliz e coerente com uma cosmovisão ateísta. A fim de sermos felizes, temos de crer em sentido, valor e propósito objetivos. Entretanto, como se pode crer nessas Mentiras Nobres e ao mesmo tempo crer em ateísmo e relativismo? Quanto mais convencido se estiver da necessidade de uma Mentira Nobre, menos se será capaz de crer nela. Como um placebo, uma Mentira Nobre funciona apenas para aqueles que acreditam que ela é a verdade. Uma vez que desmascaremos a ficção, a Mentira perde seu poder sobre nós. Assim, por ironia, a Mentira Nobre não pode solucionar o predicamento humano em todos aqueles que compreenderam esse predicamento.

A alternativa da Mentira Nobre, portanto, na melhor das hipóteses conduz a uma sociedade em que um grupo elitista de illuminati engana as massas em proveito próprio, perpetuando a Mentira Nobre. Mas por que os que estamos iluminados deveríamos seguir as massas em sua ilusão? Por que haveríamos de sacrificar o interesse próprio por uma ficção? Se a grande lição dos últimos dois séculos é o relativismo moral e intelectual, por que fingir (se pudéssemos) que não sabemos essa verdade e, em lugar disso, viver uma mentira? Se alguém responder: “Por amor à coerência social”, podemos legitimamente perguntar por que deveria eu sacrificar meu interesse social por amor à coerência social? A única resposta que o relativista pode dar é que a coerência social é do meu interesse – mas o problema com essa resposta é que o interesse próprio e o interesse do rebanho nem sempre coincidem. Além disso, se (por interesse próprio) eu me importo com a coerência social, a alternativa totalitária sempre está aberta para mim: esquecer a Mentira Nobre e manter a coerência social (assim como a minha realização pessoal) à custa da integralidade pessoal das massas. Gerações de líderes soviéticos que enalteciam virtudes proletárias enquanto circulavam em limusines e jantavam caviar em suas dachas ou casas de campo acharam essa alternativa bastante interessante. Rue sem dúvida consideraria essa alternativa repugnante. Mas nisso é que está o problema. O dilema de Rue é que ele obviamente valoriza tanto a coerência social quanto a integralidade pessoal por amor a ambas; em outras palavras, elas são valores objetivos, o que, de acordo com a sua filosofia, não existe. Ele já saltou para o andar superior. A alternativa da Mentira Nobre, portanto, afirma o que nega e refuta a si mesma.

O SUCESSO DO CRISTIANISMO BÍBLICO

Entretanto, se o ateísmo fracassa nesse aspecto, o que dizer do cristianismo bíblico? De acordo com a cosmovisão cristã, Deus existe, e por isso a vida do ser humano não termina no túmulo. No corpo ressurreto, o ser humano pode gozar da vida eterna em comunhão com Deus. O cristianismo bíblico, portanto, proporciona ao ser humano as duas condições necessárias para uma vida com sentido, valor e propósito: Deus e a imortalidade. Por causa disso, podemos viver de modo coerente e feliz. Assim, o cristianismo bíblico é bem sucedido exatamente onde o ateísmo fracassa.

CONCLUSÃO

Agora quero deixar claro que ainda não demonstrei que o cristianismo bíblico é verdadeiro. O que fiz foi enunciar claramente as alternativas. Se Deus não existe, a vida é inútil. Se o Deus da Bíblia existe, a vida tem sentido. Somente a segunda dessas duas alternativas nos possibilita viver felizes e coerentes. Por isso, parece-me que, mesmo que as evidências para essas duas alternativas fossem exatamente iguais, uma pessoa racional haveria de escolher o cristianismo bíblico. Parece-me positivamente irracional preferir morte, ausência de sentido e destruição em lugar de vida, sentido e felicidade. Como disse Pascal, não temos nada a perder e ganhamos o infinito.

Extraído do livro “A Veracidade da Fé Cristã”, William Lane Craig, Editora Vida Nova.



NOTAS


1. Kai NIELSEN, “Why should I be moral?”, em American Philosophical Quarterly 21 (1984): 90.
2. Paul KURTZ, Forbidden fruit. Buffalo/NY, Prometheus, 1988, p. 73.
3. Richard TAYLOR, Ethics, faith, and reason. Englewood Cliffs/NJ, Prentice Hall, 1985, p. 90. 84.
4. H. G. WELLS, The time machine. Nova York, Berkeley, 1957, cap. 11.
5. T S. ELIOT, “The hollow men”, em Collected poems 1909-1962. Nova York, Harcourt, Brace, Jovanovitch, Inc., 1934. Citado com permissão do editor.
6. W. E. HOCKING, Types of philosophy. Nova York, Scribner’s, 1959, p. 27.
7. Friedrich NIETZSCHE, “The gay science”, em The portable Nietzsche, ed. e trad. por W. Kaufmann. Nova York, Viking, 1954, p. 95.
8. Friedrich NIETZCHE, “The will to power”, trad. por W. Kaufmann, em Existentialism from Dostoyevsky to Sartre, 2″ ed. com introdução de W. Kaufmann. Nova York, New American Library, Meridian, 1975, p. 130-131.
9. Bertrand RUSSELL, “A free man’s worship”, em Why I am not a Christian, ed. por P Edwards. Nova York, Simon & Schuster, 1957, p. 107.
10. Bertrand RUSSELL, carta ao Observer, 6 de outubro de 1957.
11. Jean Paul SARTRE, “Portrait of the antisemite”, trad. por M. Guiggenheim, em Existentialism, p. 330.
12. Richard WURMBRAND, Tortured for Christ. Londres, Hodder & Stoughton, 1967, p. 34. 13. Ernst BLOCH, Das Prinzip Hoffnung, 2ª ed., 2 vols. Frankfurt, Suhrkamp, 1959, 2:360361.
13. Loyal D. RUE, “The saving grace of noble lies”, palestra para a American Academy for the Advancement of Science, em fevereiro de 1991.


Sobre o autor: Willian Lane Craig é doutor em filosofia pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em teologia da Universidade de Munique, e atualmente é professor-pesquisador de filosofia na Escola de Teologia Talbot. É membro de nove sociedades de profissionais, entre as quais a Academia Americana de Religião, a Sociedade de Literatura Bíblica e a Associação Filosófica Americana, e escreve artigos para New Testament Studies, Journal for the Study of the New Testament, Journal of the American Scientific Affiliation, Gospel Perspectives, Philosophy e outras publicações acadêmicas. Escreveu vários livros, entre eles A Veracidade da Fé Cristã e Filosofia e Cosmovisão Cristã (em co-autoria), ambos publicados pela Editora Vida Nova.

Fonte: Apologia

sábado, 7 de agosto de 2010

Excelente comentário do Dr. Norman Geisler sobre Filosofia e Apologética

A exortação do apóstolo Paulo para se ter “cuidado com a filosofia humana” (Col. 2:8) é tão urgente hoje quanto foi no primeiro século, se não muito mais. E isto não é verdadeiro somente para cristãos que se consideram filósofos, mas para todos aqueles que não se consideram, especialmente no caso de exegetas bíblicos.



A "ilusão" de vários tipos de filosofias, e o cuidado que devemos ter com as mesmas!

A exortação do apóstolo Paulo para se ter “cuidado com a filosofia humana” (Col. 2:8) é tão urgente hoje quanto foi no primeiro século, se não muito mais. E isto não é verdadeiro somente para cristãos que se consideram filósofos, mas para todos aqueles que não se consideram, especialmente no caso de exegetas bíblicos.

Por que temos que ter cautela com a Filosofia?

Embora o contexto de Col. 2:8 provavelmente refere-se tipo de filosofia proto-gnóstica em Colossos que trouxe uma mistura desastrosa de legalismo, ascetismo e misticismo com cristianismo [1] , a implicação da admoestação de Paulo para ter “cautela com a filosofia” é aplicada apropriadamente para outros sistemas diferentes de pensamento que tem invadido o cristianismo através dos séculos desde então.


Filosofias atuais

Existem muitas filosofias atuais com as quais devemos ter muito cuidado. Mas primeiramente vou explanar algumas das ideologias mais prejudiciais dos últimos séculos. Entre elas, poucas tem sido mais destrutivas que o naturalismo, nas versões metafísica e metodológica.

Cuidado com o Naturalismo!

Naturalismo é a filosofia que nega que existam intervenções sobrenaturais no mundo. É a raiz da crítica bíblica negativa moderna que se iniciou na verdade com a publicação de Tratado Teológico-Político de Benedict Spinoza em 1670.


Benedict Spinoza

Spinoza argumentou que “nada até então, vem para passar na natureza em contravenção a suas leis universais, sim, tudo está de acordo com elas e as segue, porque… ela mantém uma ordem imutável”. De fato, um “milagre, seja em contravenção para, ou além, natureza, é um mero absurdo”. O notável panteísta Holandês-judeu não era em nada pouco dogmático sobre a impossibilidade de milagres. Enfaticamente, proclamou, “poderemos então, sermos absolutamente certos de que toda situação que é descrita com veracidade nas Escrituras necessariamente aconteceu, como todas as outras coisas, de acordo com as leis naturais [2] .


Seu racionalismo naturalista o levou a concluir que “há muitas passagens no Pentateuco que Moisés pode não ter escrito, e sigo com a crença de que Moisés como autor do Pentateuco é ultrapassada e até mesmo irracional” [3] . Além disso, Spinoza (foto) insistiu que foi escrito pela mesma pessoa, quem escreveu todo o resto do Velho Testamento – o escriba Ezra [4] .
Spinoza também rejeitou a idéia de que a ressurreição faz parte dos Evangelhos. Considerando o cristianismo, disse que “os apóstolos que vieram depois de Jesus, o pregaram a todos os homens como uma religião universal somente em virtude da Paixão de Cristo” [5] .


Não houve ressurreição. Como o Cristianismo ortodoxo tem sido mantido desde tempos ancestrais, através das Escrituras (1 Cor. 15:1-14) e dos credos, apartada da verdade da ressurreição de Cristo, o cristianismo seria uma religião falsa sem esperança, assim segue que a visão de Spinoza é diametralmente oposta à ortodoxia [6] .


Aliás, Spinoza categoricamente negou todos os milagres da Bíblia. Ele elogia “quem busca pelas causas verdadeiras dos milagres e esforça-se para entender fenômenos naturais como um ser inteligente…” [7] Não somente concluiu que “todo acontecimento (…) nas Escrituras necessariamente aconteceu, como qualquer outra coisa, de acordo com as leis naturais” [8] mas as Escrituras por elas mesmas “fazem uma afirmação geral em várias passagens em que o curso da natureza é fixo e imutável” [9] . Em suma, milagres são impossíveis.

Finalmente, Spinoza sustentou o fato de que os profetas não falaram através de “revelações” sobrenaturais e “as formas de expressão e discurso adotadas pelos apóstolos nas epístolas mostram muito claramente que “estes últimos não foram escritos por revelação e direção divina, mas apenas pelos poderes naturais e julgamento dos autores” [10].

O naturalismo de Spinoza levou diretamente à primeira crítica sistemática negativa moderna da Bíblia. Isso tem trazido um efeito devastador para a interpretação bíblica. Seu trabalho foi a inspiração para Richard Simon que se tornou conhecido como o “Pai do Cepticismo Bíblico Moderno.” A adoção do naturalismo de Spinoza é um exemplo claro e evidente de falha ao acatar a advertência dos apóstolos para “ter cuidado com a filosofia”.


David Hume

O cético escocês David Hume (1711-1776) deu continuidade ao anti-sobrenaturalismo de Spinoza, somente em uma forma menos censurável para uma visão moderna da lei científica. No Livro Dez de seu famoso Inquérito sobre a Compreensão Humana (1748), ele lançou seu ataque nos milagres [11] . Nas palavras de Hume, a razão se torna assim: 1) “Um milagre é uma violação das leis da natureza”. 2) “Uma experiência firme e inalterável tem estabelecido estas leis [da natureza]”.3) “Um homem sábio torna suas crença proporcionais à evidência.” 4) “Portanto, a prova contra milagres… é tão completa como qualquer argumento de experiências que não podem ser imaginadas.”, escreveu Hume, “Deve haver, portanto, uma experiência uniforme contra todo acontecimento miraculoso.


Por outro lado o fato não dá mérito a apelação.” Então nada é tido como um milagre se acontecer no curso comum da natureza.” Os resultados do naturalismo filosófico de Hume tem sido desastrosos para o cristianismo [12] . Seu amigo, James Hutton (1726-1797) aplicou o anti-sobrenaturalismo de Hume para a geologia, completando quase dois séculos do naturalismo na ciência. Pouco tempo depois, David Strauss (1808-1874) escreveu sua primeira versão sem fatos sobrenaturais da vida de Cristo. Como dizem, o resto da história. Ou melhor, o resto da destruição da história – particularmente a histórias miraculosas gravadas nas Escrituras.


Outra consequência do anti-sobrenaturalismo tem sido negar a profecia preditiva. Dois Isaías foram inventados e Daniel foi adiado depois dos fatos incríveis da história que haviam previsto. Desta forma, uma explanação puramente naturalística poderia ser providenciada. Em tudo isso as conseqüências do naturalismo são evidentes para não se ouvir a injunção: “cuidado com a filosofia”. Porque se existe um Deus sobrenatural que conhece o futuro, então não há razão para que Ele não consiga prevê-lo.


Daí datando Daniel depois dos fatos da história mundial na qual ele prevê ou colocando outro Isaías porque por outro lado, o nome Ciro é mencionado um século e meio antes de ter nascido, vem de base numa raiz de rejeição pelo sobrenatural. Disto é claro que o aumento e a propagação da Alta Crítica negativa é fundamentalmente uma questão filosófica, e não concernente a fatos. No entanto, a evidência factual tem se dirigido no caminho de visões conservadoras por quase um século, como demonstrado na crescente visão conservadora do famoso arqueólogo e paleógrafo, William F. Albright. Assim que as evidências surgiram, Albright, diferentemente de muitos, estava disposto a desistir de suas pressuposições filosóficas por fatos históricos. Então, moveu-se continuamente para uma direção mais conservadora.

Rudolph Bultimann

Mais recentemente, usando a mesma pressuposição anti-sobrenatural herdada por Spinoza e Hume, Rudolph Bultmann (1884-1976) transformou as histórias dos Evangelhos em mitologias religiosas ("Hércules e Nesso", foto). Por quê? Porque, em suas palavras, acreditava que seria tanto absurdo quanto impossível não reconhecer os Evangelhos como um mito. “Seria um absurdo, porque não há nada especificamente cristão na visão mítica do mundo. É simplesmente a cosmologia de uma era pré-científica” [13] . Além do mais, “seria impossível, porque nenhum homem pode adotar uma visão do mundo pela sua própria vontade– isto já é predeterminado por ele por seu lugar na história” [14] . A razão para isto, diz Bultmann, é que “todos nossos pensamentos diários são formados para o bem ou para o mal pela ciência moderna”. Então “uma aceitação cega da mitologia do Novo Testamento seria irracional… Envolveria um sacrifício do intelecto Significaria aceitar uma visão de um mundo em nossa fé ou religião que deveríamos negar em nossa vida cotidiana” [15] .


Com uma confiança ilimitada na modernidade, Bultmann pronunciou uma imagem bíblica de milagres como impossíveis ao homem moderno. Porque “o humano conhecimento e maestria a respeito do mundo tem avançado uma tal extensão através da ciência e tecnologia que não é mais possível para ninguém seriamente manter a visão de mundo do Novo Testamento – de fato, dificilmente existe alguém que o faça. Portanto, a única forma honesta de recitar as crenças é remover a moldura mitológica da verdade que eles consagram…” [16] Isto significa que “a ressurreição de Jesus é simplesmente tão difícil, isto é, um fato em que o poder sobrenatural é liberado. Para os biólogos, tal linguagem é “sem significado” e “tal noção é intolerável para o idealista.” [17] .


Enquanto os evangélicos não foram trazidos ao naturalismo metafísico de Spinoza ou Hume, todavia, eles tem sido confundidos com sua prole, com o naturalismo metodológico ambos na ciência (pela forma de evolução teísta) e no ceticismo bíblico. Aqui, o naturalismo tem sido largamente absorvido através de metodologias como a Crítica de Redação, que supõe um desenvolvimento literário gradual do texto. Nesta conexão, é revigorante ler o trabalho perspicaz do notável ex-crítico bíblico bultmanniano, Eta Linnemann, que em seu mais novo trabalho publicado na Alemanha, com o título bem próximo em inglês de “Higher Criticism in the Dock” (“A Alta Crítica no banco dos réus”), expõe os calcanhares de Aquiles da Alta Crítica negativa.



Cuidado com o Agnosticismo

O grande pensador alemão, Immanuel Kant (1724-1804) alegou ter sido despertado por David Hume, não ao ceticismo, mas ao agnosticismo. Em seu enfático “Critique of Pure Reason” – Crítica da Pura Razão (1781) e seu menos anunciado, mas altamente influenciador “Religion Within the Limits of Mere Reason” – A Religião dentro dos limites da mera razão (1793) argumentou que Deus não pode ser conhecido (mesmo com revelações) e que a natureza da religião é moral. Insistiu que nossas mentes e sentidos são tão estruturados que não podemos conhecer a realidade por si mesma (a “coisa em si”), mas apenas o que ela aparenta para nós (fenômeno). Assim, a ciência é possível porque fala do mundo observável. Mas a metafísica não é possível. (Como na imagem de Escher, que é uma ´armadilha óptica´, o agnosticismo é uma armadilha filosófica - ´Perspectiva´).


Além disso, bifurcou o observável ramo do fato e do ramo do valor. A dicotomia tem sido desastrosa para estudos bíblicos. Direciona para a rejeição da importância, se não a existência, do registro factual e histórico nas Escrituras e uma ênfase nas dimensões moral e religiosa que tem dominado a teologia liberal desde seu tempo. O problema, então, com o liberalismo que surge de Kant não é factual nem filosófico. Não é exegético, mas ideológico. Ele importa uma metafísica e metodologia alienígena para estudos bíblicos. Kant mesmo concluiu que a religião cristã deveria operar sem a crença em milagres declarando que, “se uma religião moral (que consiste não em dogmas e rituais, mas na disposição do coração de preencher as tarefas humanas como comandos divinos) está para ser estabelecida, todos os milagres cujas histórias estão ligadas com seu primeiro acontecimento devem, por eles mesmos, no fim, tornar supérflua a crença em milagres, no geral” [18] . Considerando a influência imersa de Kant no mundo moderno, vemos mais uma vez a importância de nossa tese para termos “cuidado com a filosofia”.



Cuidado com o Evolucionismo

Muitos pensadores trabalham a partir da ilusão que a evolução é uma ciência empírica quando, de fato, é uma filosofia. Macro-evolução é uma filosofia na qual princípios naturalísticos são expelidos pelo homem Charles Darwin (Darwin, em caricatura), referido como “nosso grande filósofo”, Herbert Spencer (1820-1903) [19] . Spencer chegou à sua filosofia enquanto meditava nas ondas num charco em uma manhã de domingo – algo que sem dúvida não teria acontecido se ele estivesse numa igreja meditando na Palavra de Deus! Muitos evolucionistas não se contentaram a hipotetizar que a vida evoluiu de simples para complexa. Eles aplicam o mesmo método naturalístico para sociedade e religião, afirmando que tinham evoluído também.


Isto deu origem para o mito ainda persistente que a crença religiosa evoluiu de mágica ao politeísmo e deste ao henoteísmo, e deste ao monoteísmo. Esta visão tem dominado a situação desde que James Frazer escreveu “The Golden Bough” (“O Galho Dourado”) em 1890, mesmo que a descoberta da criação monoteísta “ex nihilo” (em Latim, “do nada”) nos Ebla Tablets deveria ter acabado com ela, desde que são anteriores às fontes de Frazer [20] . Até mesmo Charles Darwin propôs isso no seu “The Descent Man” (“O Homem Ancestral”) – 1871. “As mesmas altas faculdades mentais […] levaram o homem a acreditar em fatos espirituais não vistos, quando no fetichismo, politeísmo e em última instância, o monoteísmo…” [21]. Baseado em sua preposição naturalística, escreveu em sua autobiografia, “Eu tinha vindo gradualmente, até este momento, para ver que o Antigo Testamento, de sua história manifestamente falsa do mundo, com sua Torre de Babel, o arco como um sinal, etc, etc, e de sua atribuição a Deus, os sentimentos de um tirano vingativo, não é para ser mais confiado do que os livros sagrados hindus, ou as crenças de qualquer bárbaro.” [22]


Em resumo, Darwin concluiu que, “Tudo na natureza é o resultado de leis fixas”. E acrescentou, “Por uma reflexão mais profunda a evidência mais clara seria um requisito para fazer qualquer homem sano crer em milagres pelo qual o cristianismo é defendido – que quanto mais conhecemos sobre as leis fixas da natureza, mais incríveis os milagres se tornam, — que os homens daquele tempo eram ignorantes e crentes em um grau quase incompreensível a nós, — que os Evangelhos não podem ser provados como escritos simultaneamente aos eventos, — que eles diferem em muitos detalhes importantes, muito importantes, como parecem para mim, para serem admitidos como discrepâncias naturais de testemunhas oculares – por tais reflexões como essas… gradualmente vim a desacreditar no cristianismo como uma revelação divina” [23].


O resultado da filosofia do evolucionismo tem sido catastrófico por estudos bíblicos e teológicos. A historicidade e exatidão científica do registro de Gênesis têm sido negadas. A doutrina da criação tem sido descartada com sérias conseqüências morais em nossa dignidade e sociedade. Hitler, por exemplo, aplicou a visão Darwiniana à sociedade com horrendas conseqüências humanas, argumentando que, “Se a natureza não deseja que indivíduos mais fracos devam equiparar-se com os mais fortes, ela deseja até menos que a raça superior deva interpenetrar com uma inferior; porque em tal caso todos os esforços dela, ao longo de centenas de anos, para estabelecer um estágio evolutivo maior de seres, poderão, assim, ser proveitos fúteis”. Ele então veio a dizer que, “Tal preservação vai de mão em mão com a lei inexorável de que o mais forte e o melhor que deve triunfar e tem o direito de durar” [24] . Com isso, abateu um número estimado em 12 milhões de seres humanos os quais considerava que eram de raças inferiores.


Aliás, o texto da evolução utilizado no estado de Tennessee em questão do julgamento de John Scopes, que era racista, referia à raça caucasiana como a “mais alta raça de todas” [25] .


O prejuízo causado pelo Darwinismo no reino teológico tem sido igualmente indesejável. Claro, alguns estudiosos tem, bravamente, mas de forma fútil, arriscado a tentar reconciliar evolução com as Escrituras, incluindo James Orr e A. A. Strong, somente para fazer violência ao método histórico-gramatical e inconscientemente, minar tanto a dignidade humana como a ortodoxia teológica.


Eles falharam ao escutar as advertências de Charles Hodge em seu trabalho, em 1878, intitulado “O que é Darwinismo?”, no qual Hodge responde corretamente: “É ateísmo. Isto não significa, como dito anteriormente, que o Sr. Darwin por ele mesmo e todos que adotaram suas visões são ateus; mas significa que sua teoria é ateísta; que a exclusão do design vindo da natureza … equivaleria ao ateísmo.” [26] Afinal, se não existe nenhum design, então não existe necessidade de um Designer. E se as coisas não foram criadas, então não houve nenhum Criador.


Cuidado com a filosofia do Progressivismo

Muitos dos estudiosos bíblicos modernos foram sugados para a filosofia do historicismo, no despertar do panteísmo em desenvolvimento de George Wilhelm Hegel (1770-1831). Em seu trabalho massivo, o “The Phenomenology of Spirit (1807)” (“A Fenomenologia do Espírito”), e seu posterior “Encyclopedia of Philosophy (1817)” (“Enciclopédia da Filosofia”), Hegel esclarece em seu progressivismo histórico no que se tornou conhecido através do erro de interpretação de Johannn Fichte (1762-1814) como um dialético de teses, antíteses e sínteses [27]. Todavia, Hegel afirmou que a história é o desdobramento do espírito absoluto de um desenvolvimento dialético.

Os resultados de este chamado “Hegelianismo” para estudiosos da Bíblia foram desastrosos. F. C. Baur’s (1792-1860) Tubingen School alegou que o Evangelho de João deve ser visto como uma síntese de conflitos do século II de teses-antíteses de Pedro e Paulo. Chegaram a esta conclusão com quase um total desrespeito pela evidência interna e externa por uma data anterior ao primeiro século de João. As conclusões chamadas “exegéticas”, porém maciças ou acadêmicas, foram, em grande parte, determinadas pela filosofia prevalecente. Mais uma vez, os especialistas em hermenêutica deveriam ter ouvido a advertência de “cuidado com a filosofia.”


Cuidado com o Existencialismo

O Pai do Existencialismo moderno não foi um ateu francês do século XX, mas um cristão dinamarquês chamado Soren Kierkegaard (1813-1855) que poderia ter assinado uma declaração endossando os fundamentos históricos da Fé. Ele escreveu: “No geral, a doutrina como é ensinada (na igreja) é inteiramente sensatal” [28] .Todavia, poucos teriam feito mais no meio evangélico para minar metodologicamente a ortodoxia histórica que Kierkegaard. Aliás, foi seu filho filosófico, Karl Barth, quem deu o início à Nova Ortodoxia. Kierkegaard concluiu que “mesmo se afirmarmos que os defensores do Cristianismo”…tiveram sucesso ao provar sobre a Bíblia, tudo o que qualquer teólogo, em seu momento mais feliz, jamais desejou para provar sobre a Bíblia”, designadamente, “que esses livros e não outros pertencem ao Cânon; são autênticos; são completos; seus autores são confiáveis—um poderia muito bem dizer, que é como se cada carta fosse inspirada”. Kierkegaard perguntou: “Será que alguém que anteriormente, não teve fé foi trazido a apenas um passo mais próximo à sua aquisição? Não, nenhum passo” [29] .


Então Kierkegaard colocava o oposto, ou seja, “que os oponentes tiveram sucesso em provar o que desejavam acerca das Escrituras, com uma certeza transcendendo o desejo mais ardente da mais entusiasta hostilidade – e depois? Os oponentes aboliram assim o cristianismo? De jeito nenhum. O crente foi prejudicado? De forma alguma, e nem um pouco” [30] .


No mínimo, a bifurcação de Kierkegaard de fato e valor está axiologicamente fora de lugar. Na verdade, tem sido biblicamente desastroso, como Barth, Brunner e Bultmann demonstraram – ou quaisquer outros “Bs” que possam aparecer de repente zanzando em círculos não-ortodoxos. Precisamos somente mencionar as crenças inspiradas de Kierkegaardian: 1) A verdade religiosa é localizada num encontro pessoal (subjetividade); 2) A verdade proposicional não é essencial a fé; 3) A Alta Crítica é inofensiva ao real cristianismo; 4) Deus é “inteiramente outro” e essencialmente não pode ser conhecido, mesmo através da revelação bíblica. Isto dá um significado ainda maior para a advertência Paulina de “tomar cuidado com a filosofia”.


Cuidado com a Fenomenologia

Seguindo a metodologia do seu mentor, Edmund Husserl, Martin Heidegger (1889-1976) definiu o as bases para afirmação de que o verdadeiro significado de um termo é encontrado em etimologia. Em suas obras, “Being and Time (1927)” (“Ser e Tempo”) e especialmente “Introduction to Metaphysics (1953)” (“Introdução à Metafísica”), Heidegger definiu não somente a base para a chamada “Nova Hermenêutica” de Ott, Ebeling, Fuchs, Bultmann, e Gadamer como também o fundamento para o amplo e freqüentemente utilizado ingenuamente “Kittel’s Theological Dictionary of the New Testament“ (“Dicionário Teológico do Novo Testamento de Kittelbut”). Entre as conflituosas premissas escondidas em um trabalho maciço as discórdias são: 1) A origem de um termo é a chave para seu significado; 2) O significado é não-conceitual e místico; 3) A linguagem é simbólica, não descritiva. Até mesmo o liberal James Barr expôs as pressuposições do Heideggeriano Kittel em suas Semânticas Bíblicas. Considerando o uso extensivo e com freqüência, filosoficamente acrítico de Kittel por estudiosos da Bíblia, este não pode ajudar, mas ser lembrado da exortação de Paulo para se ter “cuidado com a filosofia” – e neste caso, a filosofia da fenomenologia.

Cuidado com o Convencionalismo
Poucas filosofias penetraram nos estudos lingüísticos contemporâneos e na interpretação bíblica mais do que o convencionalismo. Com raízes em Gottlob Frege (1848-1925), Ferdinand Sausure (1857-1913), e Ludwig Wittgenstein (1889-1951), Esta filosofia nega que hajam quaisquer formas objetivas ou absolutas de significado. Em suma, todos os significados são relativos. Se for assim, então toda verdade é relativa, desde que todas as sentenças verdadeiras devem ser significativas. Mas se toda a verdade é relativa, então não existem verdades absolutas na Bíblia, não importando o quanto os especialistas as avaliem como boas. Mas desde que esta asserção da verdade se refuta a si mesma quanto é incompatível com a teologia evangélica, então devemos tomar cuidado com a filosofia do convencionalismo.


Basta aqui simplesmente constatar que, tal como outras visões não-cristãs, a controvérsia central do convencionalismo refuta-se a si mesma. Porque a afirmação que nenhum significado é objetivo é dada como uma afirmação objetiva sobre significado. E a afirmação que toda verdade é relativa é oferecida como verdade absoluta. Não obstante, não é comum ouvir especialistas no evangelho falar da relatividade cultural de expressões lingüísticas. Aliás, muitas das traduções modernas são baseadas na premissa mal entendida.


Aceleramos ao dizer que isto não é negar que a maioria dos símbolos é culturalmente relativa. Com exceção de termos como sinais naturais e palavras onomatopaicas, o uso de uma palavra em particular é culturalmente relativo. Mas o significado expresso por palavras usadas em sentenças não é mais culturalmente relativo que a matemática e morais culturalmente relativos, porque são também expressos em diferentes termos e diferentes culturas.


Além disso, ao contrário da alegação do desconstrucionista, a lógica não é dependente da linguagem. Melhor ainda, a linguagem é dependente da lógica. Porque por esta alegação de que “a lógica é dependente da linguagem”, é por si só dependente na coerência lógica para fazer algum sentido. Aqui novamente, o estudioso da Bíblia deve ter “cuidado com a filosofia”. Aqueles não treinados a reconhecer as alegações falsas em si mesmas dos relativistas lingüísticos são iscas fáceis para a sutileza deles.


Cuidado com a filosofia do Processo
Quando a história for escrita, Alfred North Whitehead (1861-1947) provavelmente emergirá como um dos dois ou três filósofos, mas importantes do século. Seus trabalhos incluem “Religion in the Making (1926)” (algo como a “Religião na prática”) e “Process and Reality (1929)” (“Processo e Realidade”). Sua visão processista de Deus e da realidade tem trazido um efeito desastroso na teologia em geral e, mais recentemente, teologia evangélica em particular. E, tragicamente, em nome da boa exegese bíblica muitos teólogos evangélicos tem abandonado o Deus imutável e absolutamente onisciente da história ortodoxa por um Deus que não somente muda sua mente como não sabe nem ao menos com certeza o que acontecerá no futuro.


Enquanto censuram erroneamente outros evangélicos que se apegam ao imutável Deus de Abraão, Isaque e Jacó que alegou “Eu, o Senhor, não mudo” (Mal. 3:6) e quem, de acordo com Isaías “anuncia o fim desde o princípio” (Isaías 46:10), confessam ter comprado o processismo de Alfred North Whitehead, Charles Hartshorne, e John Cobb. Um dos líderes deste movimento, Clark Pinnock, posicionou corretamente sua visão neoteísta “Between Classical and Process Theism” [31] (Entre o Clássico e o Processo Teísta). Aliás, um dos mentores deste processo também confessou que desde que Deus não sabe o futuro com exatidão, Ele “tem que aguardar com respiração acelerada” para ver como as coisas acabam! [32] Poucas coisas são um vívido exemplo da necessidade de escutar a injunção Paulina para se ter “cuidado com a filosofia”.


Cuidado com o Alegorismo Platônico

O tempo não permite comentar outras numerosas filosofias que tem enganado por outro lado bons evangélicos para derrubar doutrinas uma vez por todas comprometidas aos santos. Poderia falar do alegorismo platônico que tem estado na igreja desde Origen que, na forma mutante do judeu Midrash, levou um de nossos próprios membros, deserdar de nossas fileiras, alegando que seções inteiras do evangelho de Mateus não são históricas. Pois Robert Gundry insistiu que a estória dos Magos visitando Jesus não é baseada em fatos reais, mas foi criada por Mateus sem bases! Quando questionado numa entrevista da JETS (Journal of Evangelical Theological Society – jornal da instituição), como votaria na adesão de Mary Baker Eddy em ETS (Evangelical Theological Society – “Sociedade Teológica Evangélica”), se ela concordou com nossa afirmação na inerrância, mesmo que ela tenha usado um método alegórico ao interpretar as Escrituras, Gundry respondeu com uma sinceridade chocante: “Eu votaria sim…” [33] Felizmente, os acadêmicos do ETS votaram “não” para sua adesão.


Cuidado com o Minimalismo Ockamista

Não se tem tempo de rastrear as influências do ceticismo nominalista em círculos evangélicos. Não se pode falar somente da experiência pessoal de um nominalista que foi mantido em uma faculdade de uma instituição conservadora apesar do fato que isto implica a negação de crenças ortodoxas que Deus teria uma natureza, Cristo teria duas naturezas (uma divina e outra humana), e que as leis básicas de pensamento (como a lei da não-contradição) não são arbitrárias. Os erros do nominalismo têm sido adequadamente expostos no excelente trabalho doutoral de um de nossos próprios membros, J. P. Moreland, em sua obra, “Universals, Qualities, and Quality Instances” (Universais Qualidades e Instâncias de Qualidade). No entanto, o fato de que alguns evangélicos têm trazido esta visão alienígena revela a necessidade de se ter “cuidado com a filosofia”.


Cuidado com o Aristotelismo

Em caso de ser acusado de não ser ciente dos erros de Aristóteles, que negou o infinito, a personalidade e soberania de Deus, a temporalidade do mundo, e a imortalidade da alma, eu simplesmente apontaria que Tomás Aquino, conhecido pelo uso dos conceitos de Aristóteles, rejeitou todos esses erros. Em suma, o Aristóteles que ele empregou, teve de se arrepender, ser batizado e catequizado antes de poder servir a fé cristã. (Platão, à esq., e Aristóteles, à dir. Representação artística).

Por outro lado, aqueles como Jack Rogers do seminário Fuller que negou a inerrância das Escrituras, de forma errata alegando que o evangelicalismo escolástico criou a doutrina da inerrância [34] , estão mal informados e na direção errada. Mas aqui novamente, aconteceu por causa do trabalho de um evangélico filosoficamente consciente, Dr. John Woodbridge, que as visões de Roger foram refutadas sem que houvesse uma réplica substancial.

Ao contrário das teses de Roger, Santo Agostinho, que dificilmente seria um aristoteliano, abraçou claramente a inerrância oitocentos anos antes do escolasticismo, declarando que: “se ficamos perplexos por uma contradição aparente das Escrituras, se não é permitido dizer, O autor deste livro está enganado; mas seja o manuscrito defeituoso, ou a tradução incorreta, ou você não tem entendido” [35] . A verdade é que Aristóteles, e seu distante pupilo Aquino tem sido de grande contribuição aos evangélicos [36] , que são, como Paulo nos exortou, “colocados para a defesa do evangelho” (Fil. 1:17). Pois Aristóteles acreditava na correspondente visão da verdade, as leis fundamentais da lógica, e a hermenêutica histórica-gramatical – todas as quais são essenciais para a preservação da teologia evangélica.


Cuidado com a filosofia do Monismo Antropológico

Um estudioso do Novo Testamento de uma renomada escola evangélica admitiu ter sido envolvido por “basicamente uma antropologia monística” [37] . Antes que sua instituição estivesse totalmente ciente das consequências devastadoras desta filosofia em seus estudos, ele tinha negado a ressurreição física dos crentes, a materialidade essencial da ressurreição do corpo de Cristo, e pronunciou a Ascensão de Cristo como uma “parábola” ou um “símbolo visual” [38] Num primeiro ponto, escreveu: “…a ressurreição do corpo do crente virá do céu, não da sepultura…” [39] e “Certamente, pessoas mortas se levantarão, não cadáveres impessoais.” [40]


Por causa de sua antropologia monística confessa, foi forçado a afirmar (a fim de evitar um aniquilacionismo entre morte e ressurreição temporariamente) que crentes receberam seu corpo permanente embora ressurreto espiritualmente, no momento da morte enquanto seus corpos físicos continuaram a decompor para sempre na sepultura, notando que “A ressurreição corporal [no momento da morte] é o pré-requisito para o recomeço da vida verdadeira depois da intervenção da morte” [41] . Ele inclusive, foi tão longe que disse que a ressurreição do corpo de Cristo possuía “imaterialidade essencial” [42] e não era “carnalmente”.


Em suas próprias palavras, declarou: “não será nem carnalmente nem da carne” [43] . Mas, claro, nega a materialidade essencial e contínua do Cristo encarnado ambos, antes e depois da ressurreição, a qual tem sido parte do cristianismo ortodoxo [44] dos tempos do Novo Testamento (cf. Lucas 24:39, Atos 2:31, I João 4:2, II João 7) [45] . Falo de Murray Harris, ex-professor da Escola da Divindade Evangélica Trinity, que sob críticas contínuas de fora e pressão de dentro, de forma tranquila, mudou sua visão na ressurreição de crentes e expressou arrependimento por colocar a ressurreição de Cristo como “imaterial” [46] .

Uma década inteira de dor poderia ter sido evitada não tivesse Harris comprado uma “antropologia monística” confessa que inquinou seu estudo desde o tempo de seus estudos doutorais. Mais uma vez, podemos ver o valor da exortação de Paulo para o “cuidado com a filosofia”.


Cuidado com o Criticismo Histórico

Outros estudiosos evangélicos que se envolveram com as pressuposições evangélicas da Alta Crítica negativa têm sido expostos em um excelente trabalho novo de Robert Thomas e David Farnell intitulado “The Jesus Crisis: The Inroads of Historical Criticism into Evangelical Scholarship” (A Crise de Jesus: As Incursões da Crítica Histórica dentro dos Estudos Evangélicos). Citando Scot McKnight, eles falam do aviso de George Ladd’s que a Crítica da Forma “tem jogado considerável luz na natureza dos evangelhos e as tradições que eles implicam, adicionando: “Estudiosos do Evangelho deveriam estar ávidos por aceitar essa luz” [47] . (Assim como não se pode saber, segundo o criticismo histórico, os limites entre o "Jesus histórico" e o "Jesus da fé", não se pode saber se a figura acima é um "coelho" ou um "pato").

Notaram também que “Robert Stein é outro evangélico que reflete uma concordância significante com pressupostos histórico-críticos. Como outra forma de ceticismo, ele aceita a Hipótese das Quatro Fontes, baseando-se em conclusões interpretativas nisto” [48] . Stein até afirmou que “se a falta de autenticidade de uma fala [de Jesus] deveria ser demonstrada, isto não deveria ser tomado como um significado que esta fala não tem autoridade” [49] . Além do mais, Stein argumenta que esta cláusula de exceção em Mateus 5:31-32 “é um comentário interpretativo acrescentado por Mateus [50] .


Então, temos Robert Guelich, quem em seu comentário sobre o Sermão da Montanha confessa: “Este comentário oferece um estudo crítico no que faz uso das ferramentas críticas literárias e históricas incluindo o Criticismo do texto, da fonte, da forma, da tradição, da redação e o criticismo estrutural” [51] . Seguindo este método, Guelich expressou sérias dúvidas acerca das palavras de Jesus nos evangelhos em geral e no de João em particular, quem ele acreditava colocar suas próprias expressões teológicas na boca de Jesus”. Thomas e Farnell também citaram a alegação de Catchpole: “A tradição dos Evangelhos por ela mesma obriga-nos a nos empenharmos no inquérito histórico-tradicional”, acrescentando “dificilmente podemos evitar tanto a atribuição ao estágio posterior pós-Páscoa quanto a redação do material, e quando for o caso, sua criação” [52] .


Parece haver pouca consciência entre esses estudiosos evangélicos do perigo de adotar métodos filosóficos, de qualquer forma modificados pelas crenças evangélicas deles, as quais direcionam logicamente – e algumas vezes na verdade –, como Catchpole admite – para os escritores do Evangelho “criando” material, mais do que o reportando. Qualquer método que mina o que o Evangelho nos informa sobre as palavras e os atos de Jesus, assim, mina o cristianismo ortodoxo.

Thomas e Farnell fizeram um ótimo trabalho para a comunidade evangélica ao expor a deriva de estudiosos do Novo Testamento evangélico nesta direção perigosa.

Um ex-crítico negativo do Novo Testamento, Eta Linnemann, escreveu sobre os esforços deles: “com excelentes conhecimentos abordando a teologia histórica crítica direto ao mais ínfimos detalhes, os autores são bem equipados para detectar o pensamento histórico crítico, onde quer que vá, germina, mesmo onde ninguém o esperaria – no meio da teologia evangélica por escritores supostamente fiéis a Bíblia” [53]. Claro, que é o ponto que temos chegado, designadamente, não importa o quanto alguém pode ser evangélico pelo seu treinamento ou pelos seus conhecimentos, se ele não tem “cuidado com a filosofia”, pode cair diretamente para essas influências sutis na sua teologia.



Como ter cuidado com a Filosofia


Venho agora para a seção final desta discussão: “Como ter cuidado com a Filosofia”. Meu conselho aqui é dividido em duas partes: intelectual e espiritual. Primeiro, algumas cautelas intelectuais para estudiosos evangélicos.



Como evitar conclusões não ortodoxas durante a exegese.

Em vista da discussão proposta, alguns conselhos de um filósofo evangélico para exegetas evangélicos seguem abaixo:


Alguns conselhos intelectuais (para a mente):


Meu primeiro conselho é este:


Evite o desejo de tornar-se um estudioso famoso. Parece haver uma tentação quase irresistível entre muitos estudiosos, particularmente entre os mais novos, para “fazer um nome”. Em termos bíblicos este é o pecado do orgulho do qual as Escrituras Sagradas nos adverte. É humilhante lembrar a nós mesmos que o apóstolo Paulo explicitamente exorta-nos que ainda que ele “entenda todos os mistérios e toda a ciência…se não tivesse amor, nada seria” (I Cor. 13:2). O estudo deveria ser usado para construiu o reino espiritual de Cristo, não um reino acadêmico para cada um. Santo Agostinho identificou, sem dúvida, a raiz do problema quando escreveu: “e o que é a origem de nossa vontade má senão o orgulho? Porque o orgulho é início do pecado” [54]. São Paulo concordou quando advertiu contra soberba em posições de liderança (I Tim. 3:6). E o apóstolo João advertiu contra a “soberba da vida” como um de nossos três pecados principais. (I João 2:16). (Estátua de Dante Alighieri).


Evite a tentação de ser único. Meu segundo conselho é estreitamente associado ao primeiro. É isto: evite o desejo de ser único. A tentação para esta forma de orgulho parece ser endêmica para o maior processo acadêmico. Porque por sua natureza, uma dissertação doutoral é normalmente suposta como uma contribuição original para o conhecimento. Mas se o estudante está para fazer uma descoberta que ninguém fez, então é uma tentação quase irresistível parabenizar a si mesmo por ser o descobridor desta nova verdade. Pouco imaginou o apóstolo que advertiu-nos que “o conhecimento incha” mas o “amor edifica” (I Cor. 8:1) As Escrituras nos alerta ao fato que a ocupação dos intelectuais na academia moderna é pouco diferente daquela da qual o ancião Mars Hill diz, “quem gasta o tempo em nada além de dizer ou ouvir alguma coisa nova. (Atos 17:21)”.


Não dance nas arestas. Meu próximo conselho para exegetas evangélicos é evitar dançar nas arestas. Não veja quão longe a fronteira do evangelicalismo pode ser alterada para acomodar o último modismo de estudo. Não flerte com a última metodologia crítica. Alguns de nossos membros do ETS tem sido tomados nesta armadilha. Parece que o Grant Osborne temporariamente foi vítima desta tentação, quando alegou que Mateus expandiu na afirmação supostamente original de Jesus para batizar no nome dEle, colocando-o numa forma Trinitariana registrada em Mateus 28:18-20. Outros estudiosos bíblicos, como J. Ramsey Michaels, foi mais para a linha da ortodoxia e declarou que em alguns casos os escritores do Evangelho criaram, não apenas relataram, as palavras de Jesus [55] .

A estória conta de um rei que vivia numa estrada estreita e sinuosa à beira de um penhasco bem íngreme. Ao entrevistar motoristas com potencial, foi cuidadoso ao perguntar quão próximos poderiam chegar até a beira sem cair. O primeiro motorista alegou que poderia chegar a pé sem nenhum problema. O segundo motorista gabou-se de ter a habilidade de dirigir dentro de milímetros sem colocar a vida do rei em perigo. O último candidato disse que dirigiria o mais longe que pudesse. Qual deles você acha que o rei contratou? O último, claro. E sua escolha real é um bom conselho para exegetas bíblicos que parecem saborear a dança pelas bordas do estudo evangélico.

Minha próxima sugestão é esta:


Oriente certo para ir à direção correta. De acordo com experts em aeronáutica, quando um avião pilotado apropriadamente decola, naturalmente gira, ao menos que seja corretamente direcionado. Baseado em minhas observações em instituições evangélicas e líderes desde a metade do século passado, parece a mim que o mesmo princípio se aplica. A única forma de manter no caminho ortodoxo correto é continuar a seguir o que é certo. Igrejas, escolas, e mesmo o estudo evangélico serão naturalmente serão deixados, ao menos que deliberadamente girem para o lado direito. Os ventos da doutrina que prevalecem sopra contra nós. E se estamos para resisti-los, devemos ter um objetivo firme nas rodas do Bom Navio Evangelístico e orientá-lo para o que é direito.


Não troque a Ortodoxia (bíblica) pela respeitabilidade acadêmica. Um dos principais líderes de uma grande denominação Protestante foi questionado uma vez sobre como sua denominação derivou para a esquerda. Sua análise da situação foi breve, porém profunda. Notou que queriam crédito para suas escolas. Para atingir isto precisavam da respeitabilidade acadêmica de seus professores. Assim, enviaram alguns dos melhores alunos graduados para o mundo. Quando retornaram desse instituições não-ortodoxas, trouxeram com eles a respeitabilidade acadêmica. Infelizmente, acrescentou: “Adquirimos reconhecimento acadêmico. Mas sacrificamos nossa ortodoxia pela respeitabilidade acadêmica”. Mas esta é uma troca que nenhum evangélico deveria fazer, nunca.

Como estudiosos evangélicos, devemos aprender a suportar, se necessário, a ofensa de sermos chamados “fundamentalistas”, “obscurantistas,” e teologicamente dinossáuricos”, juntamente com o ataque ao Evangelho. A este propósito, não podemos ajudar mas admirar nosso colega e irmão Thomas Odem que orgulhosamente considerou a si mesmo um “paleo-ortodoxo”. Ou a convicção e coragem de Eta Linnemann que literalmente, destruiu seus próprios trabalhos, após se converter a Cristo e convenceu seus alunos a fazer o mesmo. Devemos rejeitar a tentação de acreditar que “o novo é verdade”. É muito mais provável que “o velho é ouro”. Porque a verdade está para o teste do tempo, enquanto O erro recente não tem estado por aí por um tempo suficiente para ser pesado na balança e ser descoberto como desejável.


Rejeite qualquer Metodologia inconsistente com a Bíblia ou Boa Razão. Lamentavelmente, a maioria dos exegetas bíblicos evangélicos não tem aceitado o inspirador volume de Etienne Gilson, “The Unity of Philosophical Experience” (A Unidade da Experiência Filosófica). Nisto é demonstrado como uma filosofia após a outra leva aqueles que abraçam o método errado num cul-de-sac indesejável e até mesmo desastroso. A lição para exegetas bíblicos é a mesma: adotar uma metodologia falsa, que levará logicamente para uma teologia errada. Como fazemos nossa exegese, que nos conduzirá para quais resultados que podemos obter dela. Métodos exegéticos são para seus resultados o que o moedor é para a carne: carne dentro, carne moída pra fora – não importa quão suave é o processo. Métodos bíblicos e teológicos não são metafisicamente neutros. Para aceitar nisto é preciso ser um candidato para a advertência colossense: temos que ter “cuidado com a filosofia”.


Alguns conselhos espirituais (para a alma)


Volto-me agora para um conselho espiritual para exegetas bíblicas. Primeiramente e mais importante,–


Sempre escolha o senhorio de Deus aos estudos. Um de nossos notáveis membros da sociedade, o Professor J. Barton Payne, contou sobre uma conversa que teve com um crítico negativo da Bíblia, que nega a criação de Adão e Eva, o Dilúvio na época de Noé, Jonas e o Grande Peixe, um Isaías, a autoria mosaica do Pentateuco e outras crenças ortodoxas. Quando o Professor Payne colocou que Jesus tinha pessoalmente afirmado todas essas coisas no Evangelho, seu amigo liberal surpreendentemente respondeu: “Bom, sei mais sobre a Bíblia do que Jesus sabia!”! Este é um exemplo claro de colocar os estudos acima do senhorio de Cristo. Se Jesus foi o filho de Deus, o qual o Novo Testamento confirma que Ele era, então qualquer coisa que afirmou sobre o Velho Testamento é absolutamente verdadeiro. Além do mais, Jesus alegou a autoridade divina em seus ensinamentos (Mateus 28:18-20).

Uma vez que todos os verdadeiros evangélicos acreditam nisso, não deve haver qualquer hesitação, sempre que houver um conflito ao escolher entre o antigo senhorio e o estudo moderno. Muitos anos atrás, escrevi sobre o autor de um comentário de Jonas de uma boa escola evangélica, que declarou nisso que não era necessário entender Jonas ao pé da letra. Depois apontou que Jesus o considerou literalmente em Mateus 12:40-42, perguntei a ele se era necessário para nós como crentes em Cristo, para crer no que Jesus ensinou. De forma surpreendente, não tinha aparentemente considerado isso, bem como a declaração foi posteriormente retraída.


Não permita a moralidade para determinar a metodologia. Um de nossos respeitáveis membros, Henry Krabbendam, disse isto, brutal e corajosamente quando colocou que quando alguém se afasta da fé, ao adotar uma metodologia errada, existe normalmente uma de duas razões: “Primeiro, é possível que uma metodologia apóstata venha de um coração apóstata. Segundo, é possível que uma metodologia apóstata em uma maior ou menor medida tenha deslizado para o pensamento de um homem que é, por outro lado, compromissado com Cristo” [56] . Qualquer que seja o caso, nas palavras do apóstolo Paulo, aquele que é vítima caiu para “destruindo os conselhos, e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (II Cor. 10:5). Aqui está o grande desafio do estudioso cristão que não somente vive de forma cristocêntrica, como pensa de forma cristocêntrica – uma tarefa que é estabelecida energicamente num excelente trabalho de J. P. Moreland, intitulado: “Love You God with All Your Mind” (Ame Seu Deus de todo seu entendimento).


Não permita que a sinceridade seja um teste de ortodoxia. Apesar de sua fuga radical da ortodoxia destacada anteriormente, Benedict Spinoza,o pai do ceticismo bíblico negativo moderno, insistiu em sua fidelidade bíblica declarando: “Estou certo de tudo isso: Não disse nada que não seja digno das Escrituras ou da Palavra de Deus, e não tenho feito nenhuma afirmações as quais não poderia provar pelos principais argumentos não serem verdadeiras. Posso, por isso, ter a certeza que não tenho avançado em nada que é ímpio ou mesmo destila impiedade” [57] . Isto me lembra da defesa do seminário Fuller para manter Paul Jewitt na faculdade deles depois de ter negado a inerrância da Bíblia ao afirmar que Paulo estava errado no que disse em I Cor. 11:3. Depois de examinar cuidadosamente as visões de Jewett por um período de tempo prolongado, decidiram retê-lo na faculdade porque sinceramente creu que sua visão era ortodoxa e porque tinha fielmente ensinado em Fuller por muitos anos [58] . Desde então, a sinceridade e a longevidade se tornaram um teste para a ortodoxia!


Conclusão

Na análise final, preservar a ortodoxia não é um assunto puramente intelectual. É uma guerra espiritual. “Porque nossa luta não é contra carne ou o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra o príncipe das trevas deste século , contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12). O inimigo de nossas almas quer também enganar nossas mentes. Ele deseja destruir os bons ensinamentos que nos conduzem a viver bem. Ao minar nossa ortodoxia, podemos enfraquecer nossa ortopraxia. Então, precisamos “tomar as armaduras de Deus para resistir ao ataques do Mal. É importante realçar que esta armadura inclui, entre outras coisas, o imenso cinturão da verdade, que mantém o resto da armadura unida”. (Efésios 6:10-18).

Em resumo, minha conclusão é esta: não podemos apropriadamente ter cuidado com a filosofia ao menos que tenhamos conhecimento sobre a filosofia. Para utilizar uma analogia médica, a pessoa com mais probabilidade de pegar uma doença é aquela que não a entende e então não se previne de nenhuma forma contra isso. Afinal, os médicos não usam luvas e máscaras para esconder verrugas e cistos. Um dos problemas mais sérios para exegetas evangélicos é que muitos não são filosoficamente sofisticados. Não são treinados para colocar para fora pressupostos estranhos que se ocultam sob a superfície de sua disciplina. Em suma, muitos exegetas evangélicos não tiveram tempo para ficarem cientes da filosofia e, portanto, não sabem como cumprir a admoestação de Paulo para terem “cuidado com a filosofia”.

É mais do que um interesse passageiro notar a influência conservadora de escolas evangélicas compromissadas e filosoficamente treinadas. Em adição aos nomes mencionados, listo entre eles os membros de nossa própria Sociedade Filosófica Evangélica, incluindo David Beck, Frank Beckwith, David Clark, Winfried Corduan, Douglas Geivett, e Gary Habermas. William Craig merece uma menção especial, uma vez que tanto fez o mestrado e o doutorado em filosofia, mas também nos estudos teológicos e do Novo Testamento. Membros mais novos como este, com seu compromisso teológico ortodoxo e sofisticação ortodoxa, estão em uma posição para evitar os erros teológicos,dentro das quais, estudiosos sem treino filosófico também frequentemente caem.


O erro, mesmo o erro grave, é um algo muito sutil. A razão para isto foi apontada por Ireaneus, quando notou que “o erro, além do mais, não é nunca estabelecido em sua própria deformidade nua, assim sendo exposto, deveria, de uma vez, ser detectado. Mas são bem vestidos por fora com trajes atraentes, então assim como pela sua forma exterior, fazer parecer ao inexperiente… mais verdadeiro que a verdade em si mesma” [59]. Assim, precisamos estão tanto espiritual quando filosoficamente alertas para evitá-lo.

Falando em ser filosoficamente informado, as palavras imortais de Platão são aplicáveis aos exegetas bíblicos num todo. No livro V da República de Platão escreveu: “ao menos… que os filósofos se tornem reis em seu estado ou aqueles os quais são chamados nosso reis e governantes, tomem o exercício da filosofia séria e adequadamente, e existe uma conjunção dessas duas coisas, o poder político e a inteligência filosófica,… pode nunca existir o fim dos problemas… para nossos estados, nem, imagino eu, para a raça humana” [60] . Aplicando esta reflexão para o tema em apreço, gostaria de exortar que: ao menos que os filósofos se tornem exegetas bíblicos em nossas escolas, ou aqueles os quais agora chamamos exegetas bíblicos levem o exercício da filosofia séria e adequadamente, e há uma conjunção dessas duas coisas, exegese bíblica e a inteligência filosófica, pode não haver o cessar dos problemas teológicos para nossas escolas, nem, imagino eu, para a igreja cristã também.


Notas
[1] Vide Norman L. Geisler, “Colossians,” em The Bible Knowledge Commentary, eds. John F. Walvoord e Roy B. Zuck (Wheaton, IL: Victory Books, 1983), 668, 677.

[2] Benedict De Spinoza, A Theologico-Political Treatise, trans. R. H. M. Elwes (New York: Dover Publications, Inc., 1951), 1:83, 87, 92.

[3] Ibid., 126.

[4] Ibid., 129-30.

[5] Ibid., 170 (ênfase adicionada).

[6] Vide N. L. Geisler, The Battle for the Resurrection (Nashville, TN: Thomas Nelson, 1992), Chapter 4.

[7] Spinoza, Ethics, trans. A. Boyle (New York: E. P. Dutton, 1910), pt. 1, proposition XXXVI, appendix.

[8] Ibid., 92.

[9] Ibid., 96, ênfase adicionada.

[10] Ibid., 159, ênfase adicionada. Spinoza algumas vezes diz que os profetas falaram por “revelação” mas entende isto como o “poder extraordinário…[da] imaginação dos profetas” (ibid., 24).

[11] Hume, de fato, tem dois argumentos contra os milagres aqui. O primeiro argumento é o argumento “em princípio”, que assume a credibilidade das testemunhas. O segundo é um argumento “na prática”, que questiona se algum milagre alguma vez teve uma testemunha digna de crédito. (O ultimo sera considerado no capítulo 11.) David Hume, An Enquiry Concerning Human Understanding: and Other Essays, ed. Ernest C. Mossner (New York: Washington Square, 1963).

[12] Ibid., 10. 1. 122-23.

[13] Rudolph Bultmann, Kerygma and Myth: A Theological Debate, ed. Hans Werner Batsch, trans. Reginald H. Fuller (London: Billing and Sons, 1954), 68.

[14] Ibid.

[15] Ibid., 3-4.

[16] Ibid.

[17] Ibid., 8.

[18] Immanuel Kant, Religion With the Limits of Reason Alone, trans. Theodore M. Greene et. al., (New York: Harper Torchback, 1960), 79.


[19] Vide Herbert Spencer, Principles of Psychology (1855; reprint, New York: D. Appleton & Co., 1896); First Principles (1862; reprint, London: Williams & Norgate, 1911).

[20] Vide Eugene H. Merrill, “Ebla and Biblical Historical Inerrancy,” Bibliotheca Sacra 140, no. 560 (October-December 1983): 302-21.

[21] Charles Darwin, The Descent of Man, in Great Books of the Western World, ed. Robert Maynard Hutchins. Traduzido por Constance Garnett. (Chicago: Encyclopaedia Britannica, Inc., William Benton, publisher, 1952), Vol. 49, 303.

[22] Charles Darwin, The Autobiography of Charles Darwin, ed. Nora Darwin Barlow, (New York: Norton & Co., 1993), 85.

[23] Charles Darwin, The Descent of Man, 86-87.

[24] Adolf Hitler, Mein Kampf (London: Hurst and Blackett Ltd., Publishers, 1939), 239-40, 242.

[25] Vide George William Hunter, A Civic Biology: Presented in Problems (New York: American Book Company, 1914). Ele escreveu: “Atualmente existem na face da terra cinco raças ou variedades de homens…Estes são o Etíope ou tipo negro…;o Malaio ou raça marrom…;o Índio Americano; o Mongólico ou raça amarela…; e finalmente, o maior tipo de todos, o Caucasiano, representado pelos habitantes brancos e civilizados da Europa e da América” (196).

[26] Charles Hodge, What is Darwinism? (New York: Scribner, Armstrong, and Company, 1878), 177.

[27] Vide o excelente capítulo sobre Hegel escrito por Winfried Corduan em Biblical Errancy: Its Philosophical Roots, ed. N. L. Geisler (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1981).

[28] Soren Kierkegaard, Kierkegaard’s Journals and Papers 6:362 in A Kierkegaard Anthology, ed. Robert Bretall (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1973).

[29] Soren Kierkegaard, Concluding Unscientific Postscript to Philosophical Fragments, trans. Howard V. Hong and Edna H.Hong (Princeton, MJ: Princeton University Press, 1985), 29-30.

[30] Ibid., 31.

[31] Este é o título de um artigo de Clark Pinnock in Process Theology, ed. Ronald Nash (Grand Rapids, MI: Baker, 1987).

[32] Bernard Loomer, “A Response to David R. Griffin,” Encounter 36, no. 4 (Autumn 1975): 365.

[33] Robert Gundry, “A Surrejoiner to Norman L. Geisler,” The Journal of the Evangelical Theological Society (March 1983): 114. Sua resposta complete para minha questão específica foi “eu votaria sim em um -f” que inclui Averroes, Origen, Jack Rogers, Paul Jewett, Mary Baker Eddy, and Karl Barth!

[34] Vide a crítica de John Woodbridge sobre a visão de Jack Rogers em Biblical Authority: A Critique of the Rogers-McKim Proposal (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1982).

[35] St. Augustine, Reply to Faustus the Manichaean, 11.5, in The Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, ed. Philip Schaff, 14 vols., 1st series, (1886-94; reprint, Grand Rapids: Eerdmans, 1952).

[36] Vide N. L. Geisler, Thomas Aquinas: An Evangelical Appraisal (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1991).

[37] Murray Harris, Raised Immortal (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1985), 140.

[38] Ibid., 92.

[39] Ibid., 44.

[40] Ibid., 133.

[41] Murray Harris, From Grave to Glory (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1990), 237.

[42] Harris, Raised Immortal, 54.

[43] Ibid., 124.

[44] Vide N.L. Geisler, Battle for the Resurrection, updated ed. (Nashville, TN: Thomas Nelson, 1992) e In Defense of the Resurrection, rev. ed. (Clayton, CA: Witness, Inc., 1993).

[45] Vide N. L. Geisler, The Battle for the Resurrection.

[46] Murray Harris emu ma entrevista,em Timothy Morgan, “Evangelical Theologians Clash in Public over What Kind of Body Jesus Christ Has Following His Resurrection,” Christianity Today (5 April 1993): 62.

[47] Robert L. Thomas and F. David Farnell, The Jesus Crisis: The Inroads of Historical Criticism into Evangelical Scholarship (Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1998), 209.

[48] Ibid., 210.

[49] Ibid., 211.

[50] Ibid.

[51] Ibid., 213.

[52] Ibid., 219.

[53] Ibid., back cover.

[54] St. Augustine, The City of God, 14.13, in The Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, ed. Philip Schaff, 14 vols., 1st series (1886-94; reprint, Grand Rapids: Eerdmans, 1952).

[55] Vide J. Ramsey Michaels, Servant and Son: Jesus in Parable and Gospel (Atlanta: John Knox, 1981).

[56] Norman L. Geisler, Inerrancy (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1980), 445.

[57] Benedict de Spinoza, A Theologico-Political Treatise, 166.

[58] Nas palavras exatas do Comitê, “o comitê, enquanto mantêm suas discordâncias e lamenta algumas porções de Man as Male and Female, o que aparente questioner a autoridade do apóstolo Paulo, recomenda que o seminário não tome nenhuma outra ação sob a luz da demonstrada integridade do Dr. Jewett, sua longa contribuição para a manutenção e ensino dafé bíblica no Fuller, e sua reafirmação de lealdade aos padrões doutrinários do Fuller.”, “Ad Hoc Committee Charifies Relationship Between Paul K. Jewett’s Man as Male and Female and the Seminary Statement of Faith,” Theology News and Notes, publicado no Fuller Theological Seminary Alumni (Special Issue, 1976): 21.

[59] Irenaeus, Against Heresies 1.2, in The Ante-Nicene Fathers, ed. Rev. Alexander Roberts and James Donaldson (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1989), Vol. 1.

[60] Platão, Republic 5.473d, in The Collected Dialogues of Plato, ed. Edith Hamilton and Huntington Cairns (Pantheon Books, 1964).


Por Norman L. Geisler

Tradução de Tatiana Teles Luques dos Santos

Adaptado por Artur Eduardo

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FONTE: Blog Apologia

Divina Dádiva