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Dádiva da Adoração a Deus

Adorar a Deus é um gesto simples, mesmo que muitas vezes não seja tão fácil assim, pelo menos quando se refere à verdadeira adoração que é feita alegremente, espontaneamente e em plena sinceridade de coração. Pois, apesar de simples, historicamente a humanidade sempre encontrou grandes dificuldades em oferecer a Deus verdadeira e exclusiva adoração. Continue lendo...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Igreja tem salvação?

Por: Leonardo Boff em 09/09/2012

Esta pergunta vem formulada por um dos mais renomados e fecundos teólogos da área do catolicismo: o suíço-alemão Hans Küng num livro recém lançado no Brasil: A Igreja tem salvação?(Paulus 2012). De forma entusiasta fomentou a renovação da Igreja junto com seu colega da Universidade de Tübingen, Joseph Ratzinger. Escreveu vasta obra sobre a Igreja, o ecumenismo, as religiões, a ética mundial e outros temas relevantes. Devido a seu livro que questionava a Infalibilidade papal foi duramente punido pela ex-Inquisição. Não abandonou a Igreja mas, como poucos, se empenhou em sua reforma com livros, cartas abertas e conclamações aos bispos e à comunidade cristã mundial para que se abrissem ao diálogo com o mundo moderno e com a nova situação planetária da humanidade.
Não se evangelizam pessoas, filhos e filhas de nosso tempo, apresentando um modelo medieval de Igreja, feito bastião de conservadorismo, de autoritarismo e de antifeminismo e sentindo-se uma fortaleza assediada pela modernidade, tida como a responsável por todo tipo de relativismo. Diga-se de passagem que a crítica feroz que o atual Papa move contra o relativismo é feita a partir de seu pólo oposto, o de um invencível absolutismo. Pois esta sendo a tônica imposta pelos últimos dois Papas, João Paulo II e Bento XVI: um não às reformas e uma volta à tradição e à grande disciplina, orquestradas pela hierarquia eclesiástica.
O livro de Küng A Igreja tem salvação? expressa um grito quase desesperado por transformações e, ao mesmo tempo, uma manifestação generosa de esperança de que estas são possíveis e necessárias, caso ela não queira entrar num lamentável colapso institucional.
Fique claro, de saída, que quando Küng e eu mesmo, falamos de Igreja, entendemos, em primeiro lugar, a comunidade daqueles que se permitem um envolvimento com a figura e a causa de Jesus. O foco, então, reside no amor incondicional, na centralidade dos pobres e invisíveis, na irmandade de todos os seres humanos e na revelação de que somos filhos e filhas de Deus, Jesus mesmo deixando entrever que era o próprio Filho de Deus que assumiu a nossa contraditória humanidade. Este é o sentido originário e teológico de Igreja. Mas, historicamente, a palavra Igreja foi apropriada pela hierarquia (do Papa aos padres). Ela se identifica com a Igreja tout court e se apresenta como a Igreja.
Ora, o que está em profunda crise é esta segunda compreensão de Igreja que Küng chama de “sistema romano” ou a Igreja-instituição hierárquica ou a estrutura monárquico-absolutista de comando. Sua sede se encontra no Vaticano e se concentra na figura do Papa com o aparato que o cerca: a Cúria Romana. Há séculos que esta crise se prolonga e o clamor por mudanças atravessa a história da Igreja, culminando com a Reforma no século XVI e com o Concílio Vaticano II (1962-1965) de nossos dias. Em termos estruturais, há que se reconhecer, as reformas sempre foram superficiais ou proteladas ou simplesmente abortadas.
Nos últimos tempos, entretanto, a crise ganhou uma gravidade toda especial. A Igreja-instituição (Papa, cardeais, bispos e padres), repito, não a grande comunidade dos fiéis, foi atingida em seu coração, naquilo que era a sua grande pretensão: a de ser a “guia e mestra da moral” para toda a humanidade. Alguns dados já conhecidos puseram em xeque tal pretensão e colocaram a Igreja-instituição em descrédito.
Os escândalos financeiros envolvendo o Banco do Vaticano (IOR) que se transformou numa espécie de off-shore de lavagem de dinheiro; documentos secretos, subtraídos das mais altas autoridades eclesiásticas, quem sabe até da mesa do Papa por seu próprio secretário e vendidos aos jornais, dando conta das intrigas por poder entre cardeais; e especialmente a questão dos padres pedófilos: milhares de casos em vários países, envolvendo padres, bispos e até o Cardeal pedófilo de Viena Hans Hermann Groër. Gravíssima foi a instrução de 18 de maio de 2001 enviada pelo então Cardeal Ratzinger a todos os bispos do mundo, para acobertarem, sob sigilo pontifício, os abusos sexuais a menores pelos padres pedófilos, a fim de que não fossem denunciados às autoridades civis.Um Magistrado de Oregon,USA, tentou convocar o Cardeal a um tribunal. Finalmente o Papa teve que reconhecer o caráter criminoso da pedofilia e aceitar seu julgamento pelos tribunais civis.
Küng mostra, com erudição histórica irrefutável, os vários passos dos papas para passarem de sucessores do pescador Pedro, a vigários de Cristo e a representantes de Deus. Os títulos que o cânon 331 confere ao Papa são de tal abrangência que cabem, na verdade, somente a Deus. Uma monarquia papal absoluta com o báculo dourado não se combina com o cajado de pau do bom Pastor que com amor cuida das ovelhas e as confirma na fé como pediu o Mestre (Lc 22,32)

Leonardo Boff

Oração de Nietzsche: Ao Deus desconhecido

Por: Leonardo Boff em 01.04.2011

Muitos só conhecem de Nitzsche a frase “Deus está morto”. Não se trata do Deus vivo que é imortal. Mas do Deus da metafísica, das representações religiosas e culturais, feitas apenas para acalmar as pessoas e impedir que se confrontem com os desafios da condição humana. Esse Deus é somente uma representação e uma imagem. É bom que morra para liberar o Deus vivo. Mas não devemos confundir imagem de Deus com Deus como realidade essencial. Nietzsche estudou teologia. Eu pude dar uma palestra na Universidade de Basel na sala em que ele dava aulas, quando fui professor visitante em 1998 lá. Essa oração que aqui se publica é desconhecida por muitos, até por estudiosos do filósofo. Por isso no final indico as fontes em alemão de onde fiz a tradução. No original, com rimas, é de grande beleza. LB

Oração ao Deus desconhecido


Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.

Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.

Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) em Lyrisches und Spruchhaftes (1858-1888). O texto em alemão pode ser encontrado em Die schönsten Gedichte von Friederich Nietzsche, Diogenes Taschenbuch, Zürich 2000, 11-12 ou em F.Nietzsche, Gedichte, Diogenes Verlag, Zurich 1994.

Reflexão Teologica: liberdade para ser escravo (servo)

Algumas mensagens precisam estar sempre presentes em nossa memória e em nosso coração. Hoje tive o prazer de ser agraciado com essa linda mensagem do meu amigo, o Pr. Valdinei Sobrinho Santana, que fez essa excelente reflexão sobre o atitude cristã de servir ao próximo. Fico agradecido ao Pr. Valdinei por ter compartilhado esse belo texto.

Abaixo segue o texto na íntegra e ao final um breve comentário meu:

 

Reflexão Teologica: liberdade para ser escravo (servo) 

Por: Pr. Valdinei Sobrinho Santana, em 12.09.2012.

Há quem diga que “quem não vive para servir, não serve para viver...” O que muitos não sabem ou não se dão conta é que a frase é extremamente bíblica. A dinâmica do reino de Deus é a dinâmica do serviço e da entrega. Há um texto muito especial nas referencias canônicas que mostra de forma clara e contundente esta realidade. Está em Marcos 10: 35 a 45, um dos textos mais lindos da bíblia. Neste, Jesus altera a ordem social do seu contexto, mostrando que seus discípulos deveriam seguir o seu exemplo em servir e não o de serem servidos.
O texto informa que dois discípulos (a outras versões que informam que o pedido foi da mãe) chegaram próximos a Jesus e lhe pediram algo incomum (pelo menos por ser discípulos de quem eram) O pedido foi de Tiago e João, e o que pediram a Cristo foi que ao subirem aos céus um se assentasse a sua direita e o outro a sua esquerda. A resposta de Jesus foi rápida e sintética, em outras palavras ele disse “Vocês não sabem a besteira que estão pedindo, nem sequer meditaram no que estavam para pedir para fazê-lo”. A lógica daqueles dois discípulos era a mais humana possível; Queriam estar acima dos demais. O desejo dos mesmos é o desejo do homem enquanto homem, que ao deparar-se em um mundo de “salve-se quem puder” age de forma autenticamente egocêntrica, para destacar-se acima de seus iguais, com todos os meios e métodos que possuem em mãos, justificando ou não, os fins aos meios. O que os dois pupilos de Jesus queriam era estar acima dos outros dez.
A resposta de Cristo é impressionante. Jesus fala que no seu contexto social (e por que não dizer em todos) os maiorais exercem autoridade sobre os menos favorecidos, “mais entre vos não é assim, portanto aquele que quiser ser senhor seja servo de todos”. Interessante como Jesus inverte a pirâmide social informando aos seus discípulos que os mesmo só poderiam ser senhores se antes de tudo, fossem servos. Ele segue dizendo que o mesmo também veio ao mundo para servir e não ser servido. Creio ser o único rei na historia da humanidade que teve a coragem de dizer que no seu reinado ele é o rei que serve e não o que é servido.
A palavra servo, que Jesus usou é diáconos. Que no grego bíblico tem o mesmo significado de escravo. Jesus estava dizendo que seus discípulos deveriam ser escravos e servos uns dos outros. O desejo dos filhos de Zebedeu é também intrínseco ao coração de muitos lideres cristãos (pelo menos assim se denominam) desejam a mesma coisa que Tiago e João: Serem vistos pelos demais estando acima dos mesmos. São lideres que seguem a risca a ortodoxia (doutrina correta) mais que esquecem ou menosprezam a ortopraxia (pratica correta). Disso deve resultar a reflexão da famosa frase teológica que; “Verticalidade mística, implica em horizontalidade ética”, traduzindo em miúdos, ou parafraseando o apostolo João; “Quem odeia o seu irmão a quem vê, não pode dizer que ama a Deus a quem não vê.” Ou “Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.” No caso de Jesus.
Se Jesus veio servir, a igreja é também convocada ao serviço. A pregação do evangelho só pode ser autenticamente legitimada se a mesma ultrapassar o mundo dos discursos vazios e estereotipados, para que os senhores sejam servos. A igreja precisa inverter a pirâmide social para servir a sociedade e poder pensar como pensava são Francisco de Assis “Evangelize o mundo, se precisar use as palavras”...


Breve comentário por Alexsandro:

Cada vez mais precisamos nos deparar com essa realidade cristã: a de servir ao próximo como manifestação do amor que há em nós. E essa é a lógica do cristianismo e nela se baseia o reino de Deus: no amor a Deus e ao próximo e no amor de Deus para com a humanidade, revelado em Jesus Cristo. Não existe amor sem prestação de serviços. Mas nesses dias, o problema é que o ato de servir tem se tornado algo muito subjetivo, inclusive entre cristãos evangélicos e principalmente entre seus líderes. Ou seja, a ideia de servir se estagnou na esfera da linguagem, das meras palavras que por mais lindas que sejam, nunca passarão de palavras; se reduziu a atitudes triviais como fazer uma oração, interceder por um milagre de cura ou abençoar alguém com um óleo ungido. O líder que é capaz de servir através da operação de milagres não é também capaz de aplacar a fome de um irmão faminto. As grandes igrejas atuais se enriqueceram praticando esse "servir" subjetivo, mas na prática tanta riqueza não é revestida em obras sociais que façam jus à essa riqueza ou que faça uma diferença visível na vida daqueles que mais precisam da ajuda das igrejas. Não há um servir concreto, que vá além das palavras e ultrapassa o mundo das convenções sociais, como essa ideia do "salve-se quem puder" que foi citado no artigo. E cada vez mais a igreja se torna uma repetição do mundo, onde a competição e rivalidade por poder transforma seres humanos em meros objetos ou produtos a serem comercializados...
Bom, mas tudo isto já foi previsto, não foi? No entanto, nada nos impede de lutar por uma igreja sadia e livre dessa verticalidade social, das políticas de engrandecimento dos seus líderes e da prática desse serviço subjetivo e morto nas fronteiras das palavras.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Ofensas e preconceitos contra a fé





É comum imagens como essa circularem na internet, com objetivo principal de ofender a crença alheia. O movimento neo-ateísta é um dos que mais publica esse tipo de ofensa a religiosos, mais especificamente a cristãos. É comum em redes sociais como Facebook publicarem frases e imagens que geralmente não apenas defendem o fanatismo ateu, mas desferem golpes e insultos contra a fé e religiosidade daqueles que creem em Deus.

Sempre que tenho a oportunidade costumo comentar quando vejo estas publicações ultrajantes e enganosas, tentando mostrar o erro do ateísmo e defender a fé que tenho em Deus (defendo minha fé, não Deus, afinal Deus não precisa de minha defesa).


A esse tipo de ofensa, por exemplo, costumo responder aos arrogantes e ignorantes que fazer parte da igreja não significa cometer suicídio intelectual ou cultural. O Cristo que servimos nos orienta a prestá-lo um culto racional e com entendimento. Na bíblia, tida por ateus como instrumento de cegueira intelectual, Deus chama seus servos a amá-lo de todo o coração, de toda a alma e de todo entendimento (Mt 22:37). Por amá-lo de todo entendimento, entendemos que nos é pedido para aplicarmos todo raciocínio afim de conhecermos a Deus e usarmos todo esse raciocínio e conhecimento para chegarmos até Ele. Deus rejeita a fé cega e toda forma de culto irracional; o seu chamado é um convite para a libertação de todo ser, inclusive da mente!

Deus não chama o cristão a ter uma fé cega e irracional, pelo contrário, a fé cristã é cheia de razões e motivos. Ou seja, a fé tem motivos para ser. Não cremos cegamente, nem somente porque alguém nos orientou a crer, pois temos bases sólidas para crer em Deus e na sua palavra revelada e registrada na bíblia. A fé não é um salto no escuro e o cristianismo nunca pretendeu propagar tal fé sem sentido. A fé cristã é perfeitamente inteligível e tem suas bases muito bem estabelecidas e documentadas; ela talvez transcenda a razão, mas não é irracional. Fenômenos que não são compreendidos não necessariamente podem ser considerados irracionais. Diga-se de passagem, somos cercados de fenômenos ainda não compreendidos, não obstante, são perfeitamente lógicos e inteligíveis!

Assim como eu não conheço sobre medicina e outras áreas da ciência mas dou crédito ao médico ou outro profissional que é autoridade no assunto, da mesma forma se creio em algo que não vejo é porque alguém que tem autoridade e conhecimento suficiente me informou sobre esse algo. Deus tem toda autoridade, conhecimento, credibilidade e poder para me orientar por isso eu creio nEle.


O fato é que quando alguém que começa a fazer parte de uma igreja ou de qualquer outra instituição e permite que lhe roubem a mente e lhe manipulem, na verdade este alguém já é um ignorante e cego antes mesmo de entrar naquele local. E com sabemos, ignorantes sempre são aproveitados e manipulados, seja na igreja por líderes corruptos, na política ou em qualquer outro lugar. A boa fé e excessiva confiança de pessoas simples sempre serão exploradas, mas isso se dará em qualquer lugar onde houver ser humano. Homens inteligentes não perdem seu cérebro ao fazer parte de uma igreja, pelo contrário, se tornam cada vez mais críticos e interessados em obter conhecimento.


O fato de achar que a pessoa se tornou cego e ignorante por entrar na igreja é apenas manifestação de preconceito e, em sua maior parte, de ofensa contra a religião.


Então, pra terminar, quando pregarmos o evangelho a alguém, não nos limitemos a dizer somente que cremos em Cristo, antes façamos como Paulo e apresentemos os motivos porque cremos nEle. E como temos esperança em Cristo, expliquemos os motivos dessa esperança de forma racional e inteligente. Temos fé e esperança em Cristo, devemos portanto, expor os motivos dessa fé, mostrando como é possível crer em Deus de forma racional e com entendimento, como Ele pede, e não como um cego que crê numa bíblia escrita por homens e sem credibilidade. Explique porque a bíblia tem credibilidade. Aliás, você sabe porque a bíblia tem credibilidade? Ou você pensa que a credibilidade dela é comprovada somente por ela mesma quando nela se afirma que é inspirada por Deus? Claro que é inspirada por Deus, mas sua veracidade e credibilidade pode ser demonstrada de várias formas, uma dela é fazendo uma análise de sua origem. Afinal a bíblia é um documento registrado na história. É importante mostrar ao incrédulo esses elementos que dão a ela uma base histórica viável, aceitável e lógica.

Portanto, façamos como Pedro nos orientou:

"...e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (1 Pedro 3:15)

Em Cristo, autor e consumador da nossa fé!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

C.S. Lewis e Sigmund Freud: Uma comparação de seus pensamentos e de suas visões sobre a vida, a dor e a morte. Parte I

Armand Nicholi*

Trad.: Vitor Grando
http://despertaibereanos.blogspot.com

O seguinte artigo é adaptado de uma preleção do Dr. Armand Nicholi em uma reunião de alunos e professores promovido pela Dallas Christian Leadership na Southern Methodist University em 23 de Setembro de 1997. A parte dois aparece na The Real Issue de Março de 1998 e aborda a mudança de cosmovisão de Lewis e sua conversão.


As cosmovisões de Sigmund Freud e C.S. Lewis, ambas predominantes na nossa cultura hoje, apresentam interpretações diametralmente opostas de quem nós somos, nossa identidade, de onde viemos, de nossa herança cultural e biológica e de nosso destino. Primeiro, vamos arrumar as bases para nossa discussão fazendo três perguntas. Quem é Sigmund Freud? Quem é C.S.Lewis? E o que é uma cosmovisão?

Poucos homens influenciaram mais a estrutura moral de nossa civilização do que Sigmund Freud e C.S. Lewis. Freud foi o médico Vienense que desenvolveu a psicanálise. Muitos historiadores colocam suas descobertas ao lado das de Plank e Einstein. Suas teorias proveram um novo entendimento sobre como nossas mentes funcionam. Suas idéias permeiam diversas disciplinas incluindo a medicina, literatura, sociologia, antropologia, história e o direito. A interpretação do comportamento humano no direito e na crítica literária é profundamente influenciada pela suas teorias. Seus conceitos estão tão permeados na nossa linguagem que nós usamos termos como repressão, complexo, projeção, narcisismo, ato falho e rivalidade fraterna sem sequer nos apercebemos de sua origem.

Devido ao inegável impacto de seu pensamento na nossa cultura, os estudiosos se referem a esse século como o “século de Freud”. Por que isso? À luz do que sabemos hoje, Freud é continuamente criticado, desacreditado, e difamado; ainda assim sua figura continua a aparecer em capa de revistas e artigos de primeira página em jornais como o The New York Times. As recentes pesquisas históricas intensificaram o interesse nas controvérsias em torno de Freud e seu trabalho. Como parte de seu legado intelectual, Freud defendeu veementemente uma filosofia de vida secular, materialista e ateísta.

Apesar do fato de C. S. Lewis ter conquistado reconhecimento intelectual muito antes de sua morte em 1963, seus livros acadêmicos e populares continuaram a vender milhões de cópias por ano e sua influência continua a crescer. Durante a Segunda Guerra Mundial, os pronunciamentos de Lewis no rádio fizeram sua voz a segunda mais reconhecida na BBC perdendo apenas para Churchill. Nos anos que se seguiram, a foto de Lewis apareceu na capa da Times e outras revistas importantes.

Hoje, a grande quantidade de livros pessoais, biográficos e literários sobre Lewis, o grande número de sociedades sobre C.S.Lewis em universidades; os periódicos e jornais sobre C.S.Lewis; como também o recente filme e peça sobre sua vida confirmam o sempre crescente interesse nesse homem e na sua obra. Como um jovem membro da universidade de Oxford, Lewis mudou de uma visão secular e ateísta para uma espiritual; uma cosmovisão que Freud frequentemente atacava, mas a qual Lewis abraçou e definiu em muitos de seus escritos após a conversão. Tanto Lewis quanto Freud possuíam dons literários extraordinários. Freud ganhou o prêmio Goethe de literatura em 1930. Lewis, que ensinou em Oxford e foi catedrático de Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge, produziu alguns dos maiores criticismo literários e possui uma grande quantidade de livros acadêmicos e de ficção vastamente lidos.

Cosmovisões conflitantes.

Agora, sobre a questão da definição de “cosmovisão”. Em 1933, numa preleção chamada “A questão da Weltanschauung,” Freud definiu cosmovisão como “uma construção intelectual que resolve todos os problemas de nossa existência, uniformemente, sobre o fundamento de uma hipótese dominante.”

Todos nós, quer nos apercebamos ou não, temos uma cosmovisão; temos uma filosofia de vida, nossa tentativa de fazer nossa existência ter sentido. Ela contêm nossas respostas às principais questões que dizem respeito ao sentido de nossas vidas, questões que nos perturbam em algum período de nossas vidas, e que nós frequentemente pensamos apenas quando acordamos às três da manhã. O resto do tempo que estamos sozinhos nós temos o rádio e a televisão ligados que impedem que fiquemos sozinhos com nós mesmos. Pascal dizia que a única razão de nossa infelicidade é que nós não conseguimos ficar sozinhos num quarto. Ele alegou que nós não gostamos de confrontar a realidade de nossas vidas; a condição humana é tão basicamente infeliz que nós fazemos de tudo para nos distrair de pensar nisso.

O vasto interesse e permanente influência das obras de Freud e Lewis se originam nem tanto de seus estilos literários singulares, mas mais do apelo universal que tem as questões que eles trabalharam; questões que permanecem extraordinariamente relevantes às nossas vidas pessoais e à nossa crise social e moral contemporânea.

A partir de visões diametralmente opostas, eles falaram sobre questões como, “Há sentido e propósito para a existência?” Freud diria, “Certamente não! Não podemos nem, do nosso ponto de vista científico, abordar a questão de se há ou não sentido para a vida.” Mas ele afirmaria que se você observar o comportamento humano, perceberá que o principal propósito da vida parece ser a conquista da felicidade e do prazer. Assim Freud delineou o “principio do prazer” como uma das principais características de nossa existência.

Lewis, por outro lado, disse que o sentido e propósito são encontrados na compreensão do porquê estamos aqui em relação ao Criador que nos fez. Nosso propósito principal é estabelecer um relacionamento com esse Criador. Freud e Lewis também discutiram as fontes da moralidade e da consciência. Todos os dias nós acordamos e fazemos uma série de decisões que nos sustentam ao longo do dia. Essas decisões são geralmente baseadas no que nós consideramos que é certo: o que nós valorizamos, nosso código moral. Decidimos estudar com afinco e não usar as idéias de outras pessoas, por que de alguma forma isso é parte de nosso código moral. Já Freud disse que nosso código moral vem da experiência humana, como nossas leis de tráfego. Nós fazemos os códigos por que eles são convenientes para nós. Em algumas culturas você dirige na esquerda, em outras você dirige na direita.

Mas Lewis discordaria disso. Ele disse que apesar das diferenças culturais, há um código moral básico que transcende a cultura e o tempo. Essa lei não é inventada, como as leis de tráfego, mas é descoberta, como as verdades matemáticas. Então, Freud e Lewis tinham um entendimento completamente diferente da fonte da verdade moral.

Lewis e Freud também falaram sobre a existência de uma inteligência além do universo; Freud disse “Não”, Lewis disse “Sim”. Suas visões os levaram a discutir o problema dos milagres na era científica. Freud alegou que os milagres contradizem tudo que aprendemos através da observação empírica, eles não ocorrem de fato. Entretanto, Lewis perguntaria; “Como sabemos que eles não ocorrem? Se há alguma evidência, a filosofia que você trás para interpretar a evidência determina como você interpretará.” Então, de acordo com Lewis, nós precisamos entender se nossa filosofia exclui os milagres e, portanto, afeta nossa interpretação da evidência.

Tanto Freud quanto Lewis falaram muito sobre a sexualidade humana. Freud considerava todo tipo de amor uma forma de sexualidade sublimada, até mesmo o amor entre amigos. Lewis disse que qualquer um que pense que a amizade é baseada em sexualidade nunca teve um amigo realmente.

Eles também discutiram o problema da dor e do sofrimento. Freud era extremamente perturbado por esse problema, e Lewis escreveu alguns maravilhosos livros que ajudam a explicar o problema do sofrimento que todos nós experimentamos. O Problema do Sofrimento [Editora Vida] é uma discussão bastante intelectual da questão. Quando a mulher de Lewis morreu, ele escreveu Anatomia de uma dor [Editora Vida], que eu recomendo enfaticamente. As pessoas da minha área dizem que esse é o melhor trabalho sobre o processo de luto.

E, é claro, ambos discutiram o que Freud chamou de “O doloroso mistério da morte”. Mas eu voltarei a isso mais tarde. Cada uma das questões que eu abordei são filosóficas por natureza. É significante notar que os trabalhos filosóficos de Freud tiveram mais influência na secularização da cultura do que seus trabalhos científicos. Eu vou discutir dois desses temas.

Deus em Questão

Primeiro, a existência de uma inteligência para além do universo, o que os cientistas modernos chamam de “A questão de Deus”. Norman Ramsay, professor de física de partículas em Harvard, ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1989. Ele me disse recentemente que mesmo em seu campo, os cientistas tem se tornado interessados na questão de se há ou não uma inteligência para além do universo. Ele disse que é uma área de interesse relativamente recente para eles e que tem sido provocada principalmente pela aceitação da teoria do Big Bang. Eu repliquei dizendo que eu não entendi bem a relação. Ele disse, “Bem, quando acreditava-se que o universo não tinha começo era mais fácil, pois ninguém tinha que se preocupar com o que veio antes. Mas desde que alguém aceita a ideia de que o universo teve um inicio num ponto especifico do tempo, tem que pensar também sobre o que ocorreu antes. Então os físicos agora estão pensando sobre questões que somente teólogos e filósofos pensaram no passado.”

Ao olharmos para o mundo ao nosso redor, nós fazemos uma de duas suposições: ou vemos o mundo como um acidente e nossa existência neste planeta como uma questão de pura chance, ou presumimos alguma inteligência para além do universo que não só provê ao universo um desenho e ordem, mas também provê sentido e propósito à vida. Como vivemos nossas vidas, como terminamos nossas vidas, o que percebemos, como interpretamos o que percebemos, tudo é formado e influenciado consciente ou inconscientemente por uma dessas duas suposições básicas.

Tendo isso em mente, Freud dividiu todas as pessoas entre “crentes” e “descrentes”. Descrentes incluem todos aqueles que se consideram cínicos, céticos, escarnecedores, agnósticos ou ateus. Crentes incluem o resto, cuja crença varia desde um mero assentimento intelectual de que há algo ou alguém além deste mundo até aqueles como Lewis, Agostinho, Tolstoy e Pascal que tiveram uma experiência transformadora depois da qual sua fé se tornou o principal princípio motivador e organizador de suas vidas.

Freud foi de encontro, clara e enfaticamente, à noção de que há “Alguém” além deste mundo. Ele descreve sua cosmovisão como secular e a chama de “cientifica”, e ele alegou que não há nenhuma outra fonte de conhecimento do universo que não seja “a cautelosa observação, o que chamamos de pesquisa.” Logo, nenhum conhecimento, ele disse, pode ser derivado de revelação ou intuição. Ele afirmou que a noção do universo criado por um ser “parecido com o homem mas exaltado em cada aspecto, um super homem idealizado, reflete a grotesca ignorância dos povos primitivos.” Ele afirmou que nenhuma pessoa inteligente pode aceitar os absurdos da cosmovisão religiosa.

Freud descreveu o conceito de Deus como uma simples projeção do desejo infantil de proteção por um pai todo-poderoso. Ele acrescentou que “a religião é uma tentativa de controlar o mundo sensorial, no qual estamos situados, por um mundo que desejamos que é desenvolvido dentro de nós como um resultado de anormalidades biológicas e psicológicas.”

Ele concluiu que a visão religiosa é “tão patética e absurda e… infantil que é humilhante e vergonhoso pensar que a maioria das pessoas jamais se sobreporão a isso.” Apenas por um breve período quando era estudante sob a orientação de um brilhante filósofo chamado Franz Brentano, um crente devoto, Freud duvidou de seu ateísmo, mas ele afirmou que continuou descrente pelo resto de sua vida. Um ano antes de sua morte, Freud escreveu para Charles Sanger, “Nem na minha vida privada nem nos meus escritos eu deixei em segredo o fato de ser um completo descrente.”

Quando examinamos o relato cuidadosamente nós descobrimos que Freud talvez não estivesse tão certo de seu ateísmo quanto ele proclamava. Certamente ele se referia a si mesmo frequentemente como “um Judeu infiel” e ele rejeitou completamente a visão religiosa do universo, especialmente a visão Judaico-Cristã. Ele certamente atacou essa visão com todo seu poderio intelectual e de todas as perspectivas possíveis. Mas ainda assim, por alguma razão ele permaneceu ocupado com estas questões; ele simplesmente não conseguia deixá-las de lado. Ele passou os últimos trinta anos de sua vida escrevendo sobre tais questões.

Num estudo autobiográfico ele disse que essas questões filosóficas e religiosas o interessaram por toda sua vida desde sua juventude. Um grande número de evidências revelam que a cosmovisão de Freud não o deixavam confortável. A fé, de forma alguma, era caso concluído para ele, e ele era extremamente ambivalente quanto à existência de Deus.

Anna Freud, filha e Freud que faleceu há alguns anos atrás, me explicou a única forma de conhecer seu pai: “Não leia suas biografias;” ela instruiu, “leia suas cartas.” Por todas suas cartas, Freud faz afirmações como, “Se algum dia nós nos encontrarmos lá em cima”, “minha única, e secreta oração,” e afirmações sobre a graça de Deus. Durante os últimos trinta anos de sua vida, Freud manteve uma constante troca de centenas de cartas com o teólogo Suíço, Oskar Pfister. É interessante notar que sua correspondência mais longa foi exatamente com este teólogo. Ele admirava Pfister e escreveu, “Você é um verdadeiro servo de Deus… que sente a necessidade de fazer um bem espiritual para todos que você encontra. Você fez isso por mim também.” Ele, posteriormente, disse que Pfister estava, “na honrosa posição de poder levar homens à Deus.”

Será isso apenas formas de expressão? Poderíamos dizer isso de qualquer um, menos de Freud, que alegava que mesmo um ato falho da fala tem um sentido.

O Problema da Dor e do Sofrimento

Eu tenho estudado os escritos de Freud como também suas cartas por muitos anos e eu concluí que o principal obstáculo que Freud tinha com a idéia de um ser inteligente além do universo era sua incapacidade de conciliar um Deus bom e todo-poderoso com o sofrimento que todos nós experimentamos em certa intensidade. Numa carta para Pfister, em 1928, Freud escreveu, “E por último, deixe-me ser indelicado. Como diabos você concilia tudo que experimentamos e esperamos nesse mundo com sua suposição de um ordem moral mundial?” E depois, numa preleção em 1944, ele disse:

“Não parece ser o caso de haver um poder no universo que observa o bem-estar dos indivíduos com cuidado paternal e dirige seus interesses em direção à um final feliz. Pelo contrário, os destinos da raça humana não podem ser harmonizados nem com a hipótese de uma benevolência universal nem com a parcialmente contraditória hipótese de justiça universal. Terremotos, tsunamis, complicações que não fazem nenhum distinção entre os virtuosos e piedosos e os imorais e descrentes. Mesmo quando o que está em questão não é a natureza inanimada, mas quando o destino individual depende de suas relações com outras pessoas, não é de maneira alguma a regra de que o mal é punido e o bem recompensado. Frequentemente são os espertos e ímpios que usufruem das boas coisas do mundo e o piedoso não usufrui de nada. São poderes obscuros, insensíveis e sem amor que determinam nosso destino. Os sistemas de recompensas e punições, que a religião descreve como governo do universo, parece não existir.”

Eu me pergunto quantos de nós pelo menos uma vez não nos sentimos assim. Freud parecia não estar ciente, é claro, de que na cosmovisão Bíblica o governo do universo está temporariamente em mãos inimigas. Antes de Anna Freud falecer, eu lhe perguntei sobre a dificuldade de seu pai com o problema do sofrimento, e ela expressou grande curiosidade em relação a isso. Num determinado momento ela me disse, “Como você explica o sofrimento no mundo? Há alguém lá em cima que diz, ‘Você terá câncer. Você tuberculose’, e distribui adversidades?” Eu disse que não sabia exatamente como responder à pergunta, mas eu sei que ela respeitava Oskar Pfister. Eu disse que pessoas como Pfister descreveriam a presença de um poder maligno no universo que é responsável por parte do sofrimento. Anna pareceu interessada nessa noção e voltou frequentemente a ela na nossa conversa. Devemos lembrar que Freud sofreu consideravelmente em sua vida, emocionalmente como um Judeu crescido na profundamente Católica Viena, e fisicamente com o câncer intratável na boca com o qual ele lutou por dezesseis anos de sua vida. Os procedimentos médicos não eram bem desenvolvidos na época e o causaram uma grande dose de dor física. Então precisamos ter isso em mente quando tentamos entender como ele se sentia. C. S. Lewis, ao longo da primeira metade de sua vida, também se descreveu, como Freud, como um “completo descrente”. Se Freud duvidou de sua descrença quando estava na faculdade, Lewis se regozijava na sua descrença quando estudante em Oxford. Ele expressou um forte cinismo e hostilidade em relação à pessoas que ele chamava de “crentes” e compartilhava do pessimismo de Freud em relação a vida. Quando tinha trinta e três anos, já um membro popular de Oxford, Lewis experimentou uma profunda e radical mudança em sua vida e em seu pensamento. Ele rejeitou a cosmovisão materialista e ateísta e abraçou uma forte fé em Deus e em Jesus Cristo. Essa conversão de uma cosmovisão para outra começou uma fonte inesgotável de livros acadêmicos e populares que influenciaram milhões de pessoas.

Na segunda parte de Quando Cosmovisões Colidem, o Dr. Armand Nicholi discute as visões de C.S. Lewis sobre a vida, a dor e a morte. Leia aqui…

*Dr. Armand Nicholi é professor da Escola de Medicina de Harvard há 20 anos. Ele também ministra um curso popular na Universidade de Harvard sobre as cosmovisões contrastantes de Sigmund Freud e C.S.Lewis.

C.S. Lewis e Sigmund Freud: Uma comparação de seus pensamentos e de suas visões sobre a vida, a dor e a morte. Parte II

Armand Nicholi*

Trad.: Vitor Grando
http://despertaibereanos.blogspot.com

O seguinte artigo é adaptado de uma preleção do Dr. Armand Nicholi em uma reunião de alunos e professores promovido pela Dallas Christian Leadership na Southern Methodist University em 23 de Setembro de 1997. Na parte um , Nicholi explicou as visões de Freud sobre Deus e o Sofrimento.

Como alguém muda sua cosmovisão de uma para outra que é dramaticamente diferente? Com C.S. Lewis, essa transformação aconteceu através de um longo período de tempo. Ainda assim, sua conversão não foi menos dramática do que a de Paulo, Agostinho, Tolstoy, Pascal e muitos outros.

Essas são algumas das influências que pressionaram Lewis a mudar sua cosmovisão: Primeiro, Lewis gradativamente se tornou ciente de que a maioria dos grandes autores que ele vinha lendo por anos, eram crentes. Isso começou a fazê-lo pensar. Então, ao reler Eurípedes e Space, Time and Deity de Samuel Alexander, Lewis foi forçado a pensar sobre um profundo anseio dentro de si mesmo; ele reconheceu que era um tipo de anseio que ele experimentava periodicamente mas não conseguia entender bem. Ele chamou isso de “alegria” e escreveu bastante sobre isso. Ele percebeu que essa alegria não era um fim em si mesmo, mas um lembrete de algo ou alguém maior. Posteriormente, ele veio a crer que esse alguém é o Criador.

Segundo, Lewis ficou chocado durante uma conversa com um dos seus colegas professores de Oxford ao ouvir ele, um ateu declarado, afirmar que as evidências para a autenticidade dos evangelhos eram muito boas. As evidências eram persuasivas e as histórias dos Evangelhos pareciam ser verdadeiras. Lewis disse que é impossível compreender o impacto que isso teve nele vindo desse membro específico da faculdade.

Terceiro, ele leu O Homem Eterno de G. K. Chesterton e finalmente passou a crer em Deus. Ele escreve sobre isso de forma sucinta em Surpreendido pela Alegria:

Você tem que me imaginar sozinho naquele quarto em Magdalene, noite após noite, sentindo, a todo momento que minha mente se desviava do meu trabalho, a permanente, e persistente aproximação dEle, o qual eu não queria encontrar de maneira alguma. O que eu temia, finalmente, me sobreveio. No Trinity Term de 1929 eu finalmente desisti, e admiti que Deus era Deus, e me ajoelhei e orei: talvez, aquela noite, o mais relutante e desapontado convertido de toda Inglaterra.

Nesse momento Lewis era um teísta, não um Cristão. Ele se ocupou por muitos longos meses para entender a história do Evangelho e as doutrinas da redenção e ressurreição. Ele chegou a ler o Evangelho de João em Grego.

Então, no outono de 1931, ele jantou com dois membros da faculdade, J.R.R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, e Hugo Dyson, um professor de literatura Inglesa. Depois do jantar, os três conversaram sobre a grande questão concernente a verdade dos Evangelhos e se fizeram a pergunta que um dos pupilos de Lewis se referiu como, “Será verdadeiro, será verdadeiro, esse conto mais impressionante de todos?” Eles conversaram e caminharam por horas por um caminho chamado Caminho de Addison. O relógio na Torre de Magdalene marcava três da manhã antes deles partirem. Essa conversa teve um profundo efeito em Lewis. Nove dias depois, Lewis viajou de moto com seu irmão. Ele escreveu, “Quando saímos eu não acreditava que Jesus Cristo era o Filho de Deus, e quando chegamos ao zoológico, eu já cria.” Depois, Lewis escreveu: “Minha longa conversa com Dyson e Tolkien tiveram um grande impacto nisso.”

A conversão de Lewis revolucionou sua vida. Ele se tornou um prolifíco autor, vendendo milhões de cópias de livros e influenciando muitas pessoas em universidades, especialmente nesse país e na Europa. Devido ao fato dele mesmo ter sido ateu pela primeira metade de sua vida, ele conhecia os argumentos muito bem. Por exemplo, Lewis concordava com Freud em crer que nós, de fato, possuímos um profundo desejo por Deus, mas ele discordava com a noção de Freud de que Deus, portanto, era nada mais do que produto da satisfação de um desejo. O que nós desejamos, Lewis apontou, não tem nada a ver com a questão de se Deus existe ou não. De acordo com a teoria de Freud, o desejo da não-existência de Deus seria tão forte quando o desejo de sua existência. Lewis, portanto, disse que tudo que isso nos diz é algo sobre nossos sentimentos, mas muito pouco sobre a existência ou inexistência de Deus. Então Lewis tendia a responder a maioria dos argumentos formulados por Freud.

A Questão da Mortalidade

Vamos mudar agora para nosso segundo assunto, a questão da mortalidade, a qual Freud se referiu como “o doloroso mistério da morte.” Sócrates disse que o verdadeiro filósofo está sempre negando a morte e o ato de morrer. E, de fato, a maioria dos grandes escritores escreveram continuamente sobre isso.

Uma questão fundamental da nossa existência, uma que aprendemos ainda cedo na vida, é que nós estamos aqui na terra por um curto período. Nós somos as únicas criaturas na terra que podem prever nossa própria morte. Ao mesmo tempo, nós temos um profundo anseio pela permanência e um profundo e penetrante medo de sermos separados daqueles que nós amamos sendo abandonados. O medo de ser abandonado é o primeiro medo que experimentados quando crianças, um bebê chora quando sua mão sai do quarto. Pesquisas no Hospital Geral de Massachusetts mostraram que, em pacientes terminais, isso é o que eles mais temem, o medo de serem deixados sozinhos, de serem abandonados. É um medo temos em mente por toda nossa vida. Ainda assim não podemos escapar da cruel realidade de que cada respiro que damos, cada batida do coração, cada hora do dia nos aproxima ainda mais da hora em que deixaremos para trás aqueles que nós amamos.

Agora, como você processa essa informação? Como você entra em acordo com isso? Os psiquiatras dizem que essa questão é tão importante que você não pode realmente viver sua vida até que entre em um acordo com essa informação. Mas como você processa isso sem se encher de ansiedade ou e medo? Isso é o que Freud chamou de “o doloroso mistério da morte.”

Freud e o Mistério da Morte.

Freud escreveu frequentemente sobre a morte. Eu mencionarei apenas uns poucos comentários que ele escreveu e como ele frequentemente se confrontava com sua própria morte.

Em 1932, numa obra chamada Totem e Tabu, Freud fez a interessante observação de que a morte não existe na nossa mente inconsciente: “Nosso inconsciente não acredita em sua própria morte. Ele se comporta como se fosse imortal. Nós não conseguimos imaginar nossa própria morte e quando tentamos fazê-lo nos apercebemos que somos, de fato, ainda espectadores, assim, ninguém crê em sua própria morte.” Freud evitou dar qualquer interpretação filosófica dessa observação provocadora de que nas profundezas de nossas mentes, “todos nós estamos convencidos de nossa imortalidade.”

Em O Futuro de uma Ilusão, Freud falou frequentemente sobre o doloroso mistério da dor. Ele terminou um ensaio com a curiosa sugestão de que se você quer suportar a vida você deve estar preparado para a morte. Ele pareceu perceber o que as pessoas na minha área tem falado durante anos, que nós não podemos realmente começar a viver nossas vidas até, de alguma forma, resolver o problema da nossa própria morte. E quando isso permanece não resolvido, gasta-se uma energia excessiva ou negando a morte ou se tornando obcecado com ela.
Freud não deixou dúvidas sobre como ele lidava com o problema. Ele se tornou obcecado com a morte. Seu colega Ernst Jones, seu biografo oficial, escreveu:

Pelo que sabemos da vida de Freud, ele parece ter sido possuído por pensamentos de morte. Mais do que qualquer grande homem que eu posso imaginar. Mesmo na época que estávamos nos conhecendo ele tinha o desconcertante hábito de partir dizendo “Adeus. Você talvez não me verá nunca mais.” E então haviam os repetidos ataques do que ele chamava de “o pavor da morte”. Ele odiava envelhecer. Mesmo quando ele tinha quarenta anos e a cada ano que se passava, os pensamentos de morte se tornavam cada vez mais despóticos. Ele disse uma vez que ele pensava sobre isso cada dia de sua vida, o que é bastante incomum.

Freud sonhava com a morte continuamente, e desde cedo em sua vida ele era obcecado em prever sua morte. O médico de Freud descreveu sua preocupação com a morte como supersticiosa e obsessiva. Freud estava certo que morreria aos 41, depois aos 51, depois 61, depois 62, depois aos 70. Ele entrava num hotel e se lhe fosse entregue o quarto 63. Ele saia e permanecia, por meses, convencido de que morreria aos 63 anos. Quando Freud perdeu um ente querido, ele se sentiu totalmente desesperançoso. Numa carta para Jones, ele escreveu, “Eu tinha a sua idade quando meu pai morreu e isso revolucionou minha alma. Você consegue se lembrar de um tempo tão cheio de morte quanto esse?” Quando tinha 64 anos, Freud perdeu uma jovem e linda filha, e ele se perguntava quando chegaria a sua hora. Ele desejava que fosse logo. Ele disse, “Eu não sei o que resta dizer depois de um evento paralisante como esse que não gera nenhuma dúvida posterior para quem não é crente” . Em outra carta ele escreveu, “Como um descrente, eu não tenho ninguém para acusar e não há lugar onde fazer uma queixa.” Três anos depois o neto favorito de Freud morreu de tuberculose. Ele escreveu para um amigo, “Isso é difícil de suportar. Eu acho que jamais experimentei tamanha dor. Talvez minha própria doença contribua para isso. Eu trabalho por pura necessidade. Tudo perdeu o sentido para mim.” E em outra carta ele afirmou, “Para mim, essa criança tomou o lugar de todos os meus filhos e netos já que eu não me importo com nenhum dos meus netos. Eu não encontro nenhuma alegria na vida.”

Freud morreu aos 83 anos depois de uma batalha contra um câncer que durou 16 anos. Seu livro favorito era o Fausto de Goethe, a história de Fausto fazendo um pacto com o diabo. Logo antes de Freud morrer, ele foi até a estante da livraria e pegou um livro de Balzac entitulado The Fatal Skin, no qual o personagem principal também faz um pacto com o diabo. O livro termina quando o herói não consegue controlar seu medo da morte e morre em estado de pânico. Estranho, como último livro. Depois de ler o lviro, Freud lembrou seu médico da promessa que ele havia feito de facilitar sua passagem quando o tempo tivesse chegado. Seu médico injetou dois centigramas de morfina que o fizeram dormir, então 12 horas depois ele injetou mais dois centigramas. Freud morreu às três da manhã do dia 12 de Setembro de 1939.

C.S. Lewis e a Morte

C.S. Lewis também escreveu sobre a mortalidade. Em O Problema do Sofrimento, Lewis descreve como, quando ateu, o problema do sofrimento humano, especialmente a capacidade humana de prever sua morte enquanto intensamente deseja permanecer, foi uma barreira para ele crer num Deus bom e todo-poderoso. Após sua conversão, ele entendeu a morte como um resultado da queda, uma transgressão das leis de Deus, e que a morte não era parte do plano original. (Talvez essa seja a razão de não termos símbolo para a morte no nosso inconsciente, e termos tamanha dificuldade em aceitar nossa mortalidade.)

Lewis fez referência frequente ao principio básico que a morte ilustra. Quando tinha 31 anos, antes de sua conversão, Lewis escreveu uma carta que afirmava, “Eu penso que eu entendo isso todo ano no Outono, assim como a simples natureza e a exuberante vida do mundo está morrendo, de que algo mais está acordando. Será que isso é significante? A morte do homem natural sempre significa o nascimento do espiritual; será que algo jamais dorme se não para que algo mais acorde?”

Então alguns anos depois numa outra carta, ele escreveu, “Pode alguém acreditar que não havia nada de persistente naquele motivo de sangue, morte, e ressurreição que aparece e todos os grandes mitos?” Ele estava começando a notar enquanto estudava toda a literatura antiga que mesmo nas culturas pagãs haviam essas estranhas histórias de um deus vindo à terra, morrendo, e ressuscitando. Ele se perguntava o que isso significava. E quando você olha para a natureza, de fato você vê coisas mesmo na vida vegetal onde uma semente cai na terra, morre e volta a vida na forma de uma planta ou uma grande árvore. Será que isso pode estar apontando para o que ele eventualmente chamava de “o grande milagre,” a ressurreição? Ele disse, “Certamente a história da mente humana se encaixa muito melhor se você supor que tudo isso eram as primeiras sombras de algo cuja realidade veio em Cristo mesmo se nós não conseguirmos compreender isso completamente no presente.”

Tragédia Pessoal

Em sua vida pessoal, C. S. Lewis se confrontou com a morte quando era criança. Aos nove anos ele perdeu, em poucos meses, seu avô paterno, um tio, e sua linda mãe. Numa autobiografia, Surpreendido pela Alegria, ele se lembra de sempre estar confinado no seu quarto, doente com dor de cabeça e de dente. Ele estava profundamente triste por sua mãe não ter ido vê-lo. Ele não conseguia compreender a razão disso

Isso era por que ela estava doente, também: e o que era estranho é que haviam diversos médicos no seu quarto, e vozes e gente indo e vindo por toda a casa, portas se abrindo e fechando. Parecia ter durado por horas. E então meu pai, às lágrimas, entrou no meu quarto e começou a tentar explicar para a minha mente apavorada coisas que eu jamais havia concebido antes.

Disseram a ele que sua mãe estava morrendo de câncer. Ele chamou isso de “toda a existência mudando em algo estranho e ameaçador, enquanto a casa se enchia de aromas estranhos e barulhos durante a madrugada e conversas murmuradoras sinistras.”

“Meu pai jamais se recuperou dessa perda,” ele observou. Talvez Lewis também não, no sentido de que ele foi enviado para um colégio interno, pois seu pai estava muito deprimido para cuidar dele. Numa idade muito precoce, ele perdeu pai e mãe.

Quando tinha 18 anos e era estudante em Oxford, Lewis se juntou ao exército. Ele se feriu durante manobras na França e, numa preleção em Oxford muitos anos depois, ele fez a interessante observação de que a guerra não torna a morte mais frequente, 100 por cento de nós morremos e essa percentagem não pode ser aumentada.” Ele afirmou que a guerra coloca diversas mortes mais cedo e um dos aspectos positivos da guerra é que ela nos alerta de nossa mortalidade. Quando ele tinha 23 anos ele escreveu uma carta para seu pai sobre a morte de um velho professor, amigo de ambos. Ele afirmou:

Eu vi a morte com bastante frequência [na guerra] e mesmo assim não consigo deixar de vê-la como extraordinária e incrível. Uma pessoa real é tão real e tão obviamente viva e diferente do que o corpo morto. Não é possível crer que aquele algo se tornou em nada, que alguém pode subitamente se transformar em nada.

Isso me lembra de dos meus estudantes de medicina que acabam de iniciar a prática médica; muito frequentemente eles me chamam para falar de suas experiências na residência. Uma das coisas que os estudantes mencionam com frequência é quão diferente uma pessoa é antes e depois da morte, quão diferente um corpo é de uma pessoa viva. Eles sentem que há algo que desaparece, que não está lá após a morte, e que nós somos muito mais do que nossos corpos. Lewis pareceu reconhecer isso quando ainda era muito jovem.


A Morte Importa

Em Anatomia de uma Dor, Lewis escreveu sobre a morte de sua esposa que era para ele tudo de importante. Como eu mencionei, muitos psiquiatras consideram esse livro um clássico no entendimento do luto. Lewis faz você sentir raiva, ressentimento, solidão, e medo. Sua raiva se torna palpável quando ele imagina que Deus é um “sádico cósmico, o imbecil odioso”. Ele escreveu, “É difícil ter paciência com pessoas que dizem que não há morte ou que a morte não importa. A morte existe,” ele continua, “e o que quer que importa. Poderíamos também dizer que o nascimento não importa.”

Lewis nunca perdeu seu senso de humor. Quando ele tinha 59 anos de idade, uma mulher escreveu para ele e disse quão terrível era ter acabado de perder um amigo. Lewis escreveu de volta, “Não há nada de desonroso em morrer. Eu conheço pessoas respeitáveis que morreram.” Em outra carta, alguns anos depois, ele escreveu, “Que estado nós chegamos para não conseguir dizer, ‘Estarei feliz quando Deus me chamar’ sem ter medo disso, é mórbido. Apesar de tudo, o próprio São Paulo disse o mesmo. Porque não deveríamos pensar mais para a frente, no advento?”

Lewis concluiu que nós podemos apenas fazer três coisas em relação a morte: desejá-la, temê-la, ou ignorá-la. Ele afirmou que a terceira tentativa, a qual o mundo moderno chama de saúde, certamento é a mais difícil e precária de todas.

Lewis sofreu um ataque cardíaco em 15 de Junho de 1963, e entrou em coma. Ele se recuperou apesar disso, e viveu as poucos meses seguintes calmo e feliz. Seu último biografo nota que antes de sua conversão, Lewis era extraordinariamente ansioso em relação a morte, mas após sua conversão ele parecia ter uma maravilhosa calma quanto a isso, até mesmo uma antecipação. Relatos de seus últimos dias atestam a calma e paz interior.

Durante esse tempo, ele escreveu para um amigo de longa dada afirmando, “Apesar de eu não estar infeliz de maneira alguma, eu não consigo deixar de lamentar o fato de ter revivido em Julho”. Ele continuou, “Quero dizer, tendo sido levado tão suavemente até os portões, parece duro ter o portão fechado na cara e saber que todo o processo tem que recomeçar um dia. Pobre Lázaro.” E para um outro amigo ele perguntou, “Deve-se honrar Lázaro ao invés de Estevão como primeiro mártir. Ter sido trazido de volto e ter que passar por tudo de novo deve ter sido bem difícil.” E então ele disse, “Quando você morrer, me procure. É tudo tão divertido, solenemente divertido, não é?”

Duas semanas antes de sua morte, Lewis almoçou com um colega da faculdade. Ele disse que Lewis estava alerta de que o fim estava próximo e que jamais houve um homem tão bem preparado. Em 22 de Novembro de 1963, às 4 da tarde, o irmão de Lewis lhe trouxe seu chá da tarde. Ele observou que Lewis estava sonolento, mas calmo e alegre. As 5h30, ele estava morto.

Nós estudamos as cosmovisões contrastantes de duas mentes prolíficas. Uma visão alega que o universo é um acidente e que nossa existência é uma questão de pura chance. A outra vê o universo como resultado de um projeto e nossa existência como parte desse projeto. Um vê a morte como um mistério doloroso que causa grande ansiedade, desespero e amargura. O outro vê a morte como o passo final do projeto para o qual sua vida foi criada, um passo que pode ser experimentado com calma e até antecipação por causa do que Lewis chamou de “o grande milagre”, a ressurreição.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Hipocrisia do Ateísmo

26 de agosto de 2011
Por Robson Oliveira


O Cristianismo é civilizatório; o ateísmo, barbárie

Com frequência o meu blog em particular – e o site Humanitatis de modo geral – recebe visitas de ateus militantes, que querem convencer sei lá quem de que a existência de Deus não é fato. Bem, eles podem fazer isso o quanto quiser. Não podem é querer convencer-nos de que o mundo seria melhor e mais humano sem a crença em um Deus e sem a ação do Cristianismo, em particular.

A maioria dos argumentos ateus contra a tese da existência de Deus está baseada na maldade do mundo. Dizem que se Deus é Bom, Ele não pode ser Poderoso para acabar com o mal do mundo; se é Poderoso, não é Bom, pois permite que o homem sofra dores e reveses em sua vida.Enfim, um Deus que não é Bom nem Poderoso simplesmente não é Deus, é só um mito, uma caricatura. Logo, a ideia de Deus é uma farsa. Este sofisma dos ateus engana a alguns, pois confunde propriedades da divindade (Onipotência, Onisciência e Bondade) com a liberdade humana, que é um dom inegociável. Além disso, os males de que se falam são de tipos absolutamente diferentes.


O que é o Mal

Na base da crítica dos neo-ateus contemporâneos está um confuso conceito de mal. Dizem eles que o mal no mundo rivaliza com Deus, pois se Ele é Bom não pode conviver com o mal. Será? O que é o mal? A filosofia nos ensina que o mal não é uma entidade. Pelo contrário, há entes que são maus: este homem é mau, este evento é mau, esta decisão é má, etc. O indivíduo que, por natureza, é mal não existe. O mal é carência, é falta de um bem necessário ao ente ou àquela ação. E mais: no fundo de cada evento mau está algo bom. Com razão, a existência do Bem Absoluto, que é Deus, não poderia existir diante do Mal Absoluto, pois não é possível dois absolutos. Mas o absoluto convive com o relativo, sem que haja qualquer contradição. Assim, a existência do mal – que é um fato – convive com a existência de Deus – outro fato! – sem que haja contradição porque o mal relativo não põe em xeque o Bem Absoluto. Mas como explicar o mal no mundo, se Ele não pode advir do Bem Absoluto?


Tipos de Mal

Iraque - o século XX, o século da morte de Deus, foi o mais violento de todos

Há dois tipos de mal possíveis: o mal físico e o mal moral. O mal, como foi dito, é carência de bem. Isto é, a falta de uma propriedade que caberia a um ente ou ação, mas que nele não se encontra. Por exemplo, de um pai espera-se a propriedade da laboriosidade. Ora, se a um indivíduo que é pai falta a virtude do trabalho, falta-lhe um bem moral, o que significa que há um mal moral. De outro modo, ao animal a sensibilidade é um bem. Se algum ente animal não possui sensibilidade ele,de fato, sofre um mal. Mas é muito diferente o mal que advém da falta de laboriosidade e da falta de sensibilidade! O primeiro é um mal moral, pois é a falta de um bem que deveria existir na ação do indivíduo, que não a possui; o segundo é um mal físico, pois refere-se a um bem que deveria existir no próprio ente (a sensibilidade aos animais), mas não possui. Perceba que todos os males que encontramos no mundo são desses dois tipos: ou decorrem da falta de um bem que devia estar na ação humana, ou da falta de um bem que devia ser encontrada da natureza de um ente.

Ora, Deus fez os homens livres e, para que seja Deus, Ele tem que deixá-los livres. Portanto, se o homem faz más escolhas que produzem males para si e para outros, Ele não pode intervir para mudar as escolhas dos homens. Diferente dos homens, Ele não é contraditório. O mal moral, aquele que nasce de más escolhas humanas, não testemunha a não existência de Deus, mas apenas que este homem em particular não praticou o bem que deveria.Ou alguém sustenta que as más escolhas dos filhos (mal moral) são provas incontestáveis de que seus pais não existem? Se o mal moral no mundo são provas de que Deus não existe também deveria ser de que filhos imorais não têm pais, que nasceram do pó da terra.

Gulag Soviético - O comunismo russo produziu um dos exemplos mais acabados do que é o homem sem Deus

Quanto ao mal físico, muitos exemplos há que decorrem de más escolhas morais. Assim, um assalto a banco, que é um mal moral, pode ter como consequência mortes, paralisias, ferimentos, enfim males físicos. Além disso, sabe-se que as invenções do homem também impactam na vida biológica de todos, produzindo males físicos inexistentes no passado. Grande é o número de pessoas com Síndrome de Down no Japão e as bombas atômicas lançadas sobre o país não têm uma relação casual com esse evento.

Vejam que nem o mal físico nem o mal moral decorrem diretamente de Deus, pois se Ele existe – e Ele É! – não pode advir dEle, Bondade Eterna. Logo, o argumento ateísta de que o mal no mundo é prova de que Deus não existe é falso. Mas o pior é afirmar que o mundo seria melhor sem Deus.

África, continente sem misericórdia!

O século XX conheceu requintes de crueldade impensáveis para a humanidade cristã. Em nome de um humanismo sem Deus, Gulags, Campos de Concentração, Agente Laranja, Abortos, Eutanásia e os piores tipos de aviltamentos impossíveis à imaginação de um cristão mau foram perpetrados contra os homens. Sem falar do flagelo que consome nações inteiras na África, enquanto os organismos ateus que deveriam cuidar dessas populações investem dinheiro para empresas particulares de aborto nos EUA. Como alguém ainda quer convencer os cristãos que um mundo sem o teísmo e sem o cristianismo é melhor, é mais humanitário? Não houve momento histórico com tantas guerras quanto o século XX, nem com tantas vítimas, nem com tantos flagelos, como o que ainda assola o continente africano. Só haverá paz verdadeira e abundante quando os homens novamente derem o primeiro lugar a Deus, não apenas na sua vida privada, mas também na vida pública. Então, antes de vir com falsos argumentos ateístas visitar nosso blog, tenha vergonha na cara, olhe para o mundo que vocês estão destruindo e abandone essa doutrina hipócrita!

Divina Dádiva