Com frequência o meu blog em particular – e o site Humanitatis de modo geral – recebe visitas de ateus militantes, que querem convencer sei lá quem de que a existência de Deus não é fato. Bem, eles podem fazer isso o quanto quiser. Não podem é querer convencer-nos de que o mundo seria melhor e mais humano sem a crença em um Deus e sem a ação do Cristianismo, em particular.
Na base da crítica dos neo-ateus contemporâneos está um confuso conceito de mal. Dizem eles que o mal no mundo rivaliza com Deus, pois se Ele é Bom não pode conviver com o mal. Será? O que é o mal? A filosofia nos ensina que o mal não é uma entidade. Pelo contrário, há entes que são maus: este homem é mau, este evento é mau, esta decisão é má, etc. O indivíduo que, por natureza, é mal não existe. O mal é carência, é falta de um bem necessário ao ente ou àquela ação. E mais: no fundo de cada evento mau está algo bom. Com razão, a existência do Bem Absoluto, que é Deus, não poderia existir diante do Mal Absoluto, pois não é possível dois absolutos. Mas o absoluto convive com o relativo, sem que haja qualquer contradição. Assim, a existência do mal – que é um fato – convive com a existência de Deus – outro fato! – sem que haja contradição porque o mal relativo não põe em xeque o Bem Absoluto. Mas como explicar o mal no mundo, se Ele não pode advir do Bem Absoluto?
Há dois tipos de mal possíveis: o mal físico e o mal moral
. O mal, como foi dito, é carência de bem. Isto é, a falta de uma propriedade que caberia a um ente ou ação, mas que nele não se encontra. Por exemplo, de um pai espera-se a propriedade da laboriosidade. Ora, se a um indivíduo que é pai falta a virtude do trabalho, falta-lhe um bem moral, o que significa que há um mal moral. De outro modo, ao animal a sensibilidade é um bem. Se algum ente animal não possui sensibilidade ele,de fato, sofre um mal. Mas é muito diferente o mal que advém da falta de laboriosidade e da falta de sensibilidade! O primeiro é um mal moral, pois é a falta de um bem que deveria existir na ação do indivíduo, que não a possui; o segundo é um mal físico, pois refere-se a um bem que deveria existir no próprio ente (a sensibilidade aos animais), mas não possui. Perceba que todos os males que encontramos no mundo são desses dois tipos: ou decorrem da falta de um bem que devia estar na ação humana, ou da falta de um bem que devia ser encontrada da natureza de um ente.Ora, Deus fez os homens livres e, para que seja Deus, Ele tem que deixá-los livres. Portanto, se o homem faz más escolhas que produzem males para si e para outros, Ele não pode intervir para mudar as escolhas dos homens. Diferente dos homens, Ele não é contraditório. O mal moral, aquele que nasce de más escolhas humanas, não testemunha a não existência de Deus, mas apenas que este homem em particular não praticou o bem que deveria.Ou alguém sustenta que as más escolhas dos filhos (mal moral) são provas incontestáveis de que seus pais não existem? Se o mal moral no mundo são provas de que Deus não existe também deveria ser de que filhos imorais não têm pais, que nasceram do pó da terra.
Quanto ao mal físico, muitos exemplos há que decorrem de más escolhas morais. Assim, um assalto a banco, que é um mal moral, pode ter como consequência mortes, paralisias, ferimentos, enfim males físicos. Além disso, sabe-se que as invenções do homem também impactam na vida biológica de todos, produzindo males físicos inexistentes no passado. Grande é o número de pessoas com Síndrome de Down no Japão e as bombas atômicas lançadas sobre o país não têm uma relação casual com esse evento.
Vejam que nem o mal físico nem o mal moral decorrem diretamente de Deus, pois se Ele existe – e Ele É! – não pode advir dEle, Bondade Eterna. Logo, o argumento ateísta de que o mal no mundo é prova de que Deus não existe é falso. Mas o pior é afirmar que o mundo seria melhor sem Deus.