Um novo mundo, "admirável mundo novo" vivemos! Mundo das descobetas, do avanço tecnológico, da era digital, uma nova era que se atualiza/desatualiza tão depressa, se constrói e se destrói numa rapidez estonteante... As descobertas científicas e detenção de conhecimento se tornaram muito mais que mero previlégio humano, antes é necessário para sobrevivência nesse novo mundo cada vez mais competitivo e seletivo. Esse é o mundo de Darwin!
Mas nesse novo mundo vemos ainda muitas coisas velhas que insistem em se repetir. Mesmas catástrofes, doenças, mesmos fenômenos, antigos temores, continuação das descobertas, crescimento do conhecimento... O homem continua inventando coisas, e através das invenções e descobertas, consegue ver o universo longíquo, contempla as mais distantes estrelas, desce até as profundezas dos mares, desdobra as mais ínfimas partículas subatômicas, decifra a estrutura dos raios solares e a natureza da luz. Inventa máquinas sofisticadas que resolvem cálculos impossíveis a um mero mortal (paradoxalmente, essas invenções acabam por substituí-lo em suas atividades)...
Físicos, astrônomos e tantos outros tentam enxergar o aparente início de tudo que existe (ao que apelidou-se "big-bang"). E o homem não para apenas no estudo das leis do universo, ainda busca compreender a estrutura e comportamento das espécies, desde os animais mais simples que agem por instinto, até a natureza do comportamento humano, tão imprevisível, tão complexo, tão incompreensível, tão alheio às leis naturais.
Mas se já não é fácil comprender as leis da natureza, os seres vivos, plantas e animais, os homens... Como compreender Deus? Também tentamos entendê-lo e explicá-lo.
E a ciência, utilizando o método científico (método totalmente ateu, diga-se de passagem), tenta responder às mais intrigantes perguntas feitas pelo homem. Aquelas perguntas existenciais e essenciais que fazemos desde criança, e crescemos com elas sem resposta alguma. Porém, como pode a ciência responder a tais questões? Afinal, ciência é ciência, e como em toda boa ciência, não há espaço para respostas transcendentais à razão, ou lugar para propósito algum na vida (nem mesmo que se depare com tal constantemente!). Para a ciência não há espírito, não há alma, não há vida após a morte, não há bem, nem mal; apenas existe o resultado da evolução cega do DNA... Portanto não há Deus, nem coisa alguma que não se enxergue ou não se prove através de seu método! Assim, o homem massacra a natureza, a tortura em busca de suas respostas, fazendo a ela muitas vezes perguntas erradas, porém querendo obter respostas certas!
Como se a única forma de se chegar à verdade fosse através do método científico! Pobres mortais somos, cheios de certezas e incertezas, e também de grandes presunções! Homens das ciências que querem colocar o céu dentro de suas mentes... Enquanto muitos humildemente apenas desejam colocar seus pensamentos dentro do céu!
O fato é que apesar de todo avanço, o homem ainda sequer molhou os pés nos rios do verdadeiro conhecimento, nem superficialmente ele tocou nas questões que sempre fizeram parte da humanidade... Algumas perguntas permancem as mesmas desde o longínquo passado, e jamais foram respondidas pela ciência.
Como cantou Raul Seixas:
E as perguntas continuam
Sempre as mesmas
Quem eu sou?
Da onde venho?
E aonde vou dá?
E todo mundo explica tudo
Como a luz acende
Como um avião pode voar
Ao meu lado um dicionário
Cheio de palavras
Que eu sei que nunca vou usar
Mas por que escrevo tudo isso? Você deve se perguntar. Só quero deixar claro como o homem incessantemente busca por respostas, mas essas respostas, por maior que seja o seu conhecimento, permanecem ocultas... Talvez nem haja tais respostas, ou a natureza nunca esteve afim de respondê-las; se isso é verdade, tais perguntas nem devessem ser formuladas, ou, pelo menos, necessitam ser reformuladas (como fizeram os descobridores da física quântica)! Por que, quem ou que poderá nos certificar de que nossas perguntas estão corretas, afim de obtermos respostas certas?
Nesses dias de crises econômicas, mazelas e opressões, catástrofes, terremotos e tsunames, essas perguntas vêm à tona. E o mundo olha para os cristãos, para os seguidores e servos de Deus, desse Deus invisível, desconhecido e aparentemente totalmente alheio ao sofrimento humano. O mundo quer respostas, os cristãos também querem, os servos do Deus invisível almejam por uma voz, como voz de trovão, que paire dos céus e explique ao homem porque Deus não interfere para evitar tamanho mal. Então, eis a questão: como nos posicionamos diante dessa perigosa situação e dessas perguntas tão inquietantes e fundamentais?
Todos os que buscamos a verdade, não somente os cristãos, mas principalmente estes ou aqueles que de alguma forma crêem num Deus bondoso e poderoso devem se colocar de pé para dar à humanidade uma resposta, ou pelo menos um ponto de vista aceitável. Mas não apenas uma resposta lógica, pois o mal é, antes, um problema que fere os sentimentos, que aflige a alma; e afinal de contas, do que vale a lógica diante de tamanho sofrimento? Aliás, tem lógica alguma em tanto sofrimento? Poderia uma resposta lógica ser suficiente para não somente explicar males, mas também, e acima de tudo, confortar a alma do ser humano diante de suas perplexidades?
Pergunta-se agora, como em toda época de calamidade: Onde está Deus? Por que ele não faz nada para evitar tanto mal?
Escreveu o filósofo grego Epícuro de Samos (341-270 a.C)
:
“Ou Deus quer abolir o mal, e não pode;
ou ele pode, mas não quer;
ou ele não pode e não quer.
Se ele quer, mas não pode, ele é impotente.
Se ele pode, e não quer, ele é cruel.
Mas se Deus tanto pode quanto quer abolir o mal, como pode haver maldade no mundo?”
Em outras palavras:
- Se for onipotente e onisciente, então tem conhecimento de todo o Mal e poder para acabar com ele, ainda assim não o faz. Então Ele não é Bom.
- Se for onipotente e benevolente, então tem poder para extinguir o Mal e quer fazê-lo, pois é Bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto Mal existe , e onde o Mal está. Então Ele não é onisciente.
- Se for onisciente e Bom, então sabe de todo o Mal que existe e quer mudá-lo. Mas isso elimina a possibilidade de ser onipotente, pois se o fosse erradicava o Mal. E se Ele não pode erradicar o Mal, então porquê chamá-lo de Deus?
Se as perguntas são as mesmas, por vezes as possíveis respostas dadas pelo homem diante de suas perplexidades tem sido as mesmas: Ou Deus não existe, ou, se existe, Ele é mesmo muito mal e impotente, ou ainda, Ele fez o homem e o abandonou à mercê da sorte (e se estamos abandonados à própria sorte, então não houve planejamento, nem cuidado, ou qualquer responsabilidade com Sua criação).Não me atreverei a dar respostas, pois de fato quem as terá? Quem conheceu o pensamento de Deus e compreendeu todos os seus propósitos? Quem entenderá seus motivos e quem estará à altura de questionar sua jusitiça?
O que sabemos, é que o mal nem sempre é uma "dádiva" divina; na verdade o homem muitas vezes cava o buraco de sua própria queda! Aqui no Brasil, os exemplos são infinitos... Começando pelas tragédias das chuvas que derrubam casas mal localizadas, passando pelos grandes desmatamentos, pela má destribuição de renda que provoca a fome de muitos e grande sobra para poucos. Damos ainda uma volta nos antros da política onde o maior destaque quase sempre é a corrupção; chegando então às precárias políticas de reforma agrária, que faz do campo lugar de poucos; e sendo que dentro das cidades parece não haver espaço para todos construírem suas casas e muitos se abrigam ao ar livre! Assim, vendo deste anglo não dá pra dizer que fomos abandonados por Deus, nós é que nos abandonamos! Ou será que Deus descerá do céu para alimentar o pobre, quando ele já deixou tanta comida disponível! O problema é de Deus ou do homem que toma o pão que alimenta seu semelhante?
É sabido também que alguns lugares do planeta são inadequados para sobevivência humana. Inclui-se aí as áreas próximas a vulcões que sem aviso se despertam para o terror daqueles que se aproveitam de suas férteis redondezas. Aparentemente desavisado o homem segue assim... E o que dizer das mudanças climáticas provocadas diretamente pela interferência humana ou da extinção de espécie claramente massacradas pelo homem?
É óbvio que essas poucas palavras não são suficientes (nem pretendem ser) para explicar as tragédias, nem tampouco para confortar as almas humanas. Propositalmente, não irei escrever longo texto explicando localizações geográficas, placas tectônicas ou pesquisas sociológicas; pois para mim, e creio que para todo discípulo de Cristo, as respostas já foram dadas, aquelas muitas descritas pelo Mestre, das quais seguem algumas:
E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; e sobre a terra haverá angústia das nações em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas.
Os homens desfalecerão de terror, e pela expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto os poderes do céu serão abalados.
Então verão vir o Filho do homem em uma nuvem, com poder e grande glória. (Lc. 21:25-27)
E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; olhai não vos perturbeis; porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda não é o fim.
Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares.
Mas todas essas coisas são o princípio das dores.
Então sereis entregues à tortura, e vos matarão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.
Nesse tempo muitos hão de se escandalizar, e trair-se uns aos outros, e mutuamente se odiarão.
Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos; e, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.
Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo.
E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim. (Mt. 24:6-14)
Quando ouvirdes de guerras e tumultos, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam essas coisas; mas o fim não será logo.
Então lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino; e haverá em vários lugares grandes terremotos, e pestes e fomes; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu. (Lc 21:9-11)
Porque haverá então uma tribulação tão grande, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá.
E se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias. (Mt. 24:21-22)
Essas são as respostas a serem dadas pelos discípulos de Cristo, e creia nelas quem quiser! Quem tiver ouvidos ouça essas palavras! Deixemos, portanto, a resposta final Àquele que é soberano e trata o homem com reta justiça. Sua supremacia será sempre mantida; e queira ou não o homem,
Ele tem poder para tirar um bem do mal!
Mesmo sem luz, continuamos a crer com o coração partido, porque estamos convencidos de que o caos e a tragédia não podem ter a última palavra. Deus é tão poderoso que pode tirar um bem do mal. Apenas não sabemos como. Esperançosos, fazemos uma aposta nesta possibilidade que não deixa nossas lágrima serem vãs. Ademais, cremos que Deus pode ser aquilo que nós não compreendemos. Acima da razão que quer explicações, há o mistério que pede silêncio e reverência. Ele esconde o sentido secreto de todos os eventos também daqueles trágicos. (Leonardo Boff - Lamento junto a Deus pelo Haiti)
Segue abaixo texto completo de Leonardo Boff, onde fala sobre o desastre no Haiti:
Lamento junto a Deus pelo Haiti
Há uma via-sacra de sofrimento com estações que nunca acabam no pequeno e pobre pais do Haiti. Sofrimento no corpo, na alma, no coração, na mente assaltada por fantasmas de pânico e de morte. Há também muito sofrimento em todos os humanos que não perderam o senso mínimo de humanidade e de solidariedade. Desta com-paixão universal nasce uma misteriosa comunidade que anula as diferenças, as religiões, as ideologias que antes nos separavam e até nos dividam. Agora só conta a comum humanitas absurdamente maltratada e que deve ser socorrida.
Em cada haitiano que sofre soterrado ou que morre de sede e de fome, morremos um pouco também todos nós junto com eles. Finalmente somos irmãos e irmãs da única e mesma família humana. Como não sofrer?
Mas há também um sofrimento profundo e dilacerante nas pessoas de fé que proclamam que Deus é Pai e Mãe de bondade e de amor. Como continuar a crer? Queixosos nos perguntamos: "Deus, onde estavas quando se formou aquele tremor raso que dizimou os teus filhos e filhas mais pobres e sofridos de todo o extremo Ocidente? Por que não intervieste? Não és o Criador da Terra com seus continentes e suas placas tectônicas? Não és Pai e Mãe de ternura, especialmente, daqueles que são como teu Filho Jesus os injustamente crucificados da história? Por que"?
Este silêncio de Deus é aterrador porque ele simplesmente não tem resposta. Por mais que gênios como Jó, Buda, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Leibniz e outros tivessem arquitetado argumentos para isentar Deus e esclarecer a dor, nem por isso a dor desaparece e a tragédia deixa de existir. A compreensão da dor não suspende a dor, assim como ouvir receitas culinárias não faz matar a fome.
O próprio Jesus não foi poupado da angústia do sofrimento. Do alto da cruz lançou um brado lancinante ao céu, queixando-se:"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste"?
Damos razão a Jó, irritado com seus "amigos" que lhe queriam explicar o sentido de sua dor:"Vós não sois senão charlatães, não sois senão médicos de mentira; se ao menos vos calásseis, os homens tomar-vos-iam por sábios". Mas não podemos calar. A dor é demasiada e a noite, tenebrosa. Precisamos de alguma luz.
Mesmo sem luz, continuamos a crer com o coração partido, porque estamos convencidos de que o caos e a tragédia não podem ter a última palavra. Deus é tão poderoso que pode tirar um bem do mal. Apenas não sabemos como. Esperançosos, fazemos uma aposta nesta possibilidade que não deixa nossas lágrima serem vãs. Ademais, cremos que Deus pode ser aquilo que nós não compreendemos. Acima da razão que quer explicações, há o mistério que pede silêncio e reverência. Ele esconde o sentido secreto de todos os eventos também daqueles trágicos.
Identifico-me com o poema de um grande argentino que perdeu um filho na repressão militar: Juan Gelman:
"Pai, desce do céus, esqueci as orações que me ensinou minha avó, pobrezinha, ela agora repousa, não tem mais que lavar, limpar, não tem mais que preocupar-se, andando o dia todo atrás da roupa, não tem mais que velar de noite, penosamente, rezar, pedir-te coisas, resmungando docemente".
"Pai, desce dos céus, se estás, desce, então, pois morro de fome nesta esquina, não sei para que serve haver nascido, olho as mãos inchadas, não tem trabalho, não tem, desce um pouco, contempla isto que sou, este sapato roto, esta angústia, este estômago vazio, esta cidade sem pão para meus dentes, a febre, cavando-me a carne, este dormir assim, sob a chuva, castigado pelo frio, perseguido".
"Te digo que não entendo, Pai, desce, toca-me a alma, toca-me o coração, eu não roubei, nem assassinei, fui criança e em troca me golpeiam e golpeiam, te digo que não entendo, Pai, desce, se estás, pois busco resignação em mim e não tenho e vou encher-me de raiva e estou disposto a brigar e vou gritar até estourar o pescoço de sangue, porque não posso mais, tenho rins, e sou um homem, desce".
"Que fizeram de tua criatura, Pai? Um animal furioso que mastiga a pedra da rua? Pai, desce".
Que o Pai desça sobre os haitianos com seu amor.
http://www.leonardoboff.com/site/vista/2010/jan29.htm
Para finalizar, algumas palavras de conforto deixadas pelo nosso Senhor Jesus a todos os seus discípulos:
Ora, quando essas coisas começarem a acontecer, exultai e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção se aproxima. (Lc. 21:28)
Assim também vós, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que o reino de Deus está próximo. (Lc. 21:31)